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Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.

Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.


04.11.12


Gosto muito de ti Digo-o todas as manhãs quando percebo que o meu pequeníssimo cubículo de madeira não tem um espelho, e seria tão fácil para mim mulher de muitos ofícios construir um, adquiria o recipiente de plástico numa qualquer feira de aldeia e simplesmente água límpida da chuva, e sei que aparecerias com os lábios desenhados em beijos de amêndoa e com mil sorrisos de girassol, depois de eu escrever nas sílabas do tecto as palavras mágicas, e no entanto, a minha preguiça é mais forte que o meu desejo, e imagino-te sentado junto ao Tejo a desenhar flores nas sombras da noite, imagino-te junto ao Tejo a contar os barcos que entram, imagino-te junto ao Tejo a contar os barcos que saem, não falando nos que se afundam por falta de alimentos,

- As gaivotas dos teus seios quando o vento transporta as sementes dos silêncios cobertores que a alvorada come sem perceberes que do outro lado da rua há uma janela amarela com cortinados de papel com tons de acrílico, o mar vive na criança que choraminga ao acordar, na lâmpada de néon que não se cansa de acender, e não se cansa de navegar, e nunca se extingue na saliva do prazer,

Gosto muito de ti,

- Digo-o toda as manhãs antes de acordar, saltar solenemente da cama de cartão e olhar o espelho invisível que irei construir com a água límpida da chuva que irá descer do céu, um dia, uma qualquer hora sem destino marcado, as tuas mãos entranhar-se-ão no meu pescoço de malmequer e pedacinhos de mel, saborearei a tua língua de uva doirada na minha boca infinita que o xisto esmigalha nos arcos circunflexos da montanha ate que o rio entre no teu corpo e desapareças nas finas estrelas de silício,

Gosto muito de ti Digo-o todas as manhãs de sábado e saboreio a poesia mágica Moçambicana da antologia submersa na prateleira que os teus olhos de feiticeira iluminam, e hoje foi sábado, e hoje nenhum barco entrou, saiu ou se afundou, adormeci na cadeira da saudade sem me dar conta das palavras suspensas nos loiros cabelos do fim de tarde, o Tejo é assim, o Tejo é uma mulher em desejo e que dança ao som das garrafas de vodka de um qualquer bar plantado numa qualquer cave, sombria, húmida a terra doente onde deitas as mãos depois de acariciares as plantas que adornam a varanda sobre Lisboa,

- As tuas coxas de vidro

Gosto muito de ti,

- Na imensidão longínqua que o oceano engole nas madrugadas (e nunca se extingue na saliva do prazer) as coisas belas que o amor pinta na tela da simplicidade da arte abstracta, as tuas coxas de vidro nas manhãs bíblicas das orações da dona Arminda, os teus seios guardados escrupulosamente no interior de um livro de poemas (e como eu queria ser o livro de poemas de AL Berto onde guardo os teus seios gramaticais com rimas abraçadas às infinitas caravelas que o teu púbis absorve), e vi acordar a lua nos olhos cerrados dos peixes, das plantas, e dos animais vestidos de literatura,

Gosto

Muito

Gosto muito de ti antes que termine a noite e os dias se transformem em cinzas de azoto, gosto muito de ti sem me preocupar com as horas engasgadas do meu relógio de pulso cansado, que novamente seja sábado, e a antologia de poesia Moçambicana “Nunca mais é Sábado” se abra na tua mão de vidro, também de vidro, as tuas coxas,

- De ti.

(texto de ficção não revisto)


03.11.12


As pedras feitiço na aldeia dos sonhos
uma criança menino das corridas sobre o azul silêncio da infância
um barco de papel
em rota de colisão

as palavras em gemidos
nos olhos cansados dos livros semeados nas encostas da montanha
socalcos de vogais
nas entranhas do xisto solitário

a poeira feiticeira
das brasas uivos da lareira
sobre a mesa da esplanada acorrentada à maré do inferno
quando o amor entra no peito do texto sem cor

das pedras
as pedras feitiço na aldeia dos sonhos
em flor
as janelas inventadas nas mãos dos beijos doces das nuvens de algodão

o chão térreo encharcado de sémen
das paredes o barro crucificado na madeira apodrecida
que o homem das palavras
semeou clandestinamente nas tuas coxas de vidro

as pedras
o feitiço das sandálias madrugada
que o vento aproximou
quando te mostrei pela primeira vez a aldeia dos sonhos...

(poema não revisto)


02.11.12


Perco-me na morada incerta das algas insignificantes da madrugada
procuro na algibeira as migalhas das chaves que me dão acesso ao sótão
da solidão deserta sem palavras
dos números complexos escritos nas frestas da lua,

perco-me nas estrelas de papel
que à janela da insónia me beijam loucamente
quando atravesso a rua dos sonhos
e esqueço-me que as luzes dos olhos do mar dormem docemente na tua boca,

perco-me na tua voz melódica
poeticamente embriagada nas flores lésbicas que habitam no jardim do desejo
perco-me em ti
de ti quando me faltam os poemas e fumo as últimas sílabas da noite...

(poema não revisto)


01.11.12


(para ti, Alexandra)

Trazes nos ossos os frígidos cansaços medos
das palavras embriagadas
que os singelos segredos
constroem nas madrugadas,

ai amor
as noites em ausências loucas
quando a tua mão em flor
dança suavemente nas orgias bocas,

trazes nos olhos a dor
no peito o sofrimento
ai amor
meu amor alimento,

meu amor em pedacinhos de mar
em todas as palavras de todos os poemas e de todas as cores
(trazes nos ossos os frígidos cansaços medos)
ai amor meu amor luar
das noites com flores...
em noites de amar.

(poema não revisto)


01.11.12


Vivia eu no limo das espadas de aço
quando sobre as águas límpidas da noite
entranhaste-te no meu peito
em pequeníssimos silêncios

das palavras
e dos beijos
a pele circular do teu corpo erva flor
filha da madrugada infância do oceano
o mar me procura
e os teus braços me prendem às sombras das línguas em desejo
o medo veste-se de gaivota
e desaparece nas nuvens que poisavam na cidade dos teus lábios

o amor absorve-me e alimenta-se das minhas mãos
submersas nos pedacinhos de cartão
onde escreves
desenhas
envias-me os teus mais sombrios luares que a noite constrói
sem perceberes que das tuas palavras
e dos teus beijos
vêm até mim as flores da saudade.

(poema não revisto)

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