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francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


31.10.13

foto de: A&M ART and Photos

 

havia suspiros na tua voz de chocolate

lanternas diurnas embrulhadas em finas mãos de silêncio

escrevem-se nas palavras dos teus braços

oiço as teclas dos teus dedos na máquina do meu corpo

onde te espera uma folha de tristeza para rasurares como uma tempestade envenenada

havia suspiros uivos nos teus doces lábios

e dos beijos amargos o poema envaidece-se

cresce

e torna-se homem

mulher

apaixonado

apaixonada

 

o amor morre como um esqueleto de vidro

amado

amada

desamada

desalmada

o amor desaparece dentro dos círculos verdes das marés de incenso

 

havia suspiros nos olhos dos crisântemos

sobre a térrea campa do desejo

na lápide uma límpida manhã ensonada conversando sobre esplanadas

rios como cemitérios de ferrugem

e barcos como mulheres ansiosas pela chegada dos corpulentos marinheiros do abismo

tínhamos uma algibeira recheada de geada

tínhamos no peito uma mísera envergonhada madrugada

húmida

comida pelo suor das palavras loucas

tínhamos no sexo uma fiada cinzenta de cinza

que sobejava dos tristes cigarros em papel crepe

havia suspiros nos olhos... e sempre que chovia ouvíamos os comboios suicidarem-se nos carris do sonho

 

o sonho morreu junto aos arbustos em Belém

o rio galgou as montanhas de gelo

e entrou na tua vida alimentando-a de ossos e pedaços de sombra

havia suspiros

lágrimas

desajeitadas mãos na face de um busto granítico...

 

havia suspiros de chapa doirada

nas sanzalas avenidas que sentíamos das janelas de verniz

tínhamos uma lareira em cada suspiro inventado no teu ventre

havia rosas vermelhas nos confins das tuas coxas

migalhas de xisto entranhavam-se nos teus seios borbulhantes

e nós que parecíamos crianças sem infância

brincávamos como bonecas de trapos

e folhas de mangueira

ouvíamos o pulsar garrido do cavalo branco

e sabia dos teus cabelos clandestinos

onde escondias o verdadeiro amor...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 31 de Outubro de 2013


30.10.13

foto de: A&M ART and Photos

 

não precisaria da noite para reescrever-te e reinventar-te das neblinas marés do inferno

não precisaria de ver-te

acariciar-te

tocar-te como o faço sempre que te observo nas sombras dos cansados telhados de suor

não precisaria

mas também não fazia sentido sentir-te

sentindo-me agachado junto aos rochedos da miséria

indefinidamente

sem pontuação

nem um simples ponto final... e despedir-me

de ti

 

(sem precisar

não precisaria de despedir-me das pegadas em flor

ou

dos candeeiros verdes das janelas em plátanos solitários)

 

não precisaria de imaginar-me nas ravinas doentes das montanhas com reumatismo

obesas caminhando abraçadas aos três carris que o Inverno tece nas mãos da geada

não precisaria

e preciso

olhar-te

imaginar-te deitada no meu desajeitado colo

porque os meus joelhos parecem dobradiças enferrujadas

barcos encalhados nos finíssimos bancos de jardim

à madeira empobrecida

no caruncho bicho das palavras derretidas nos talheres do açúcar em pedra...

o mar alimenta-me a saudade

de precisar quando eu não precisaria... dos teus beijos amanhecer

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 30 de Outubro de 2013


29.10.13

foto de: A&M ART and Photos

 

a locomotiva acaba de descarrilar nas tuas mãos

sentada olhas o perfume que o silêncio tece nas nuvens em cabelos de vento

há pássaros desajeitados comendo migalhas de sofrimento

bebendo lágrimas de insónia

a locomotiva da paixão

morre

suicida-se nos rochedos da saudade

como se a eira granítica do teu peito adormecesse nas montanhas encarnadas

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 29 de Outubro de 2013

...


29.10.13

foto de: A&M ART and Photos

 

movediças areias tuas manhãs cansadas em mim

orvalhos siderais colados na língua do Outono

migalhas dele nas mãos do inferno

o invisível mergulhado das travessias inconstantes das flores empastelares

pareço um viúvo de fotografia ao peito

com suspensórios de tristeza acorrentados à solidão das noites indolores

movediças areias

as tuas coxas

as tuas ideias

os teus pérfidos seios de porcelana no clandestino horário que vive nos meus pulsos de aço

procuras abraços

e eu... ofereço-te palavras sem nexo

desejos vãos

carícias por correspondência a cobrar no destinatário

pareço um viúvo embebido nos arbustos da partida

cândidos odores que provocas nas praças diurnas da cidade dos beijos

transeunte esqueleto sem vida

na minha vida

os lábios dilacerados em pedaços de papel de embrulho

movediças areias

as tuas lágrimas lunares em madrugadas de cio

e lambedoras orgias estrelares

sobre a ponte fina e escura

do cemitério da poesia

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 29 de Outubro de 2013


28.10.13

foto de: A&M ART and Photos

 

molha-te

humedece-te como um rio em cio

mergulha

alegre

nas sílabas pérfidas dos anónimos mendigos das calçadas embriagadas

molha-te

humedece-te

embriaga-te como uma pedra depois de ser lançada pelo pénis do poema

abre-te

agacha-te e dorme

sonha

morre

(molha-te

e humedece-te como uma Rainha sentada no trono da despedida)

some-te

molha-te

humedece-te...

vive

dorme

esquece-me

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 28 de Outubro de 2013

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