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Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.

Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.


22.12.13

foto de: A&M ART and Photos

 

O piano enlouquecido

tristemente só... alegremente despromovido

o piano magoado louco esquecido...

o piano dorme enquanto os dedos dela se masturbam nas suas doces teclas

o piano desgraçado

dorido

é triste ser som de piano louco

quando o corpo dela...

não o é... e o é tão pouco

enquanto o corpo dela... dilacera-se como a manteiga nos espelhos da paixão

o piano tem coração

tem dono... tem tesão.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 22 de Dezembro de 2013


21.12.13

foto de: A&M ART and Photos

 

O pormenor emblemático do corpo composto por luz, pétalas encarnadas e algumas insónias margaridas, o jardim parece um monstro recheado de nozes, vozes, um monstro com olhos em xisto, socalcos, montanhas... e nas veias, o rio

O Douro?

O sorriso das madames com plumas desiguais sobre os ombros sombreados pelas nuvens que a noite constrói depois de todas, ou apenas uma ou outra, luzes de néon vomitarem as palavras encravadas nas montras da cidade, oiço-te vaguear como uma gaivota ferida, doente, oiço-te mergulhar no meu Douro que odeio, confesso... que sempre odiei, vivi para ser uma cidade, com bares, ruas e ruelas, travestis, putas, e donzelas... o Douro enerva-me, desiludiu-me quando o encontrei pela primeira vez... como me desiludiram algumas das mulheres que eu tive

(como desiludiste algumas das mulheres que tiveste)

Como me desiludiram algumas das calçadas empedradas com acesso ao rio, outro rio, um rio com vida, um rio com esqueleto de marinheiro, em cio

O Douro?

A ponte iluminava-se, a ponte voava sobre os espaços exíguos da minha cabeça, acordava com pequenas grandes tonturas, acordava a fumar cigarros proibidos e deitava-me a fumar

Cigarros proibidos?

O Douro enerva-me, desculpem-me, mas amo a cidade do Tejo, amo a ponte, os charros que fumei enquanto choramingava... e depois caía num qualquer bar em Cais do Sodré, depois era madrugada, deambulava pelas ruas mais profundas, mais escuras, mais... mais amadas em mim, depois cambaleava, tropeçava no paralelepípedo e vomitava sons inaudíveis dos carris frios, tão frios como o teu corpo de menina enquanto descia Setembro sobre uma sombra em Trás-os-Montes, odeio-te sabendo que sou prisioneiro de ti, odeio-te sabendo que só serei livre quando

Pegar na tua mão, acariciar-la como se fosse a folha de um dos livros do António Lobo Antunes, ou um dos pares de luvas de lã que tive em miúdo, depois deixei de sentir frio porque as minhas mãos transformaram-se em rochas, pedaços de granito, eles também gélidos, eles também... sós, depois vieram os olhos verdes que a pouco e pouco ficaram sem cor, hoje são daltónicos e precisam de lentes para ler as tuas palavras das tuas cartas que eu te reenviei... e hoje, hoje sinto saudades

Da cidade do Tejo,

A ponte iluminada balançava quando o vento vinha para me levar e sempre que me preparava para partir, não partia, um carro de brincar iluminava a ruela dos candeeiros mortos, movimentava-se por quatro pilhas de um volt e meio, redopiava em círculos, usava a voz das minhas palavras na boca das outras palavras, aquelas que nunca consegui escrever, dizer amo-te é mentira, ilusão, despedida,

Saudades?

Do Tejo,

Dizer desejo-te é mentira, ilusão, despedida,

Saudades?

Do Tejo,

(dedico esta música a todos os meus amigos)

Amigos? Quais amigos... dás-te conta que não tens amigos, e que se vivesses na cidade do Tejo não tinhas um cão com catorze anos, caquéctico, rabugento... mas engraçado, porque só ele percebe porque choro, quando choro...

(qual é a frase?)

O pormenor emblemático do corpo composto por luz, pétalas encarnadas e algumas insónias margaridas, o jardim parece um monstro recheado de nozes, vozes, um monstro com olhos em xisto, socalcos, montanhas... e nas veias, o rio, a heroína em ebulição sentia-se e no tombar das árvores doidas, como sonâmbulos corpos emagrecidos havia sempre alguém que não regressava,

(ai a frase... a frase...)

O Douro?

A límpida água dos sonhos e da esperança voltam à panela de pressão e evaporam-se nas avenidas encantadas dos guindastes com braços em aço e lábios em pergaminho,

Hoje temos beijos,

(quer uma ajudinha... senhor Francisco?)

Hoje temos beijos, saudades e nada mais do que isso... e redopiava em círculos, usava a voz das minhas palavras na boca das outras palavras, aquelas que nunca consegui escrever, dizer amo-te é mentira, ilusão, despedida,

Saudades?

Do Tejo,

(diga comigo senhor Francisco... “Com os voos nocturnos da menina Amélia a sobremesa adormece sobre a mesa-de-cabeceira”)

Hoje temos beijos, saudades e nada mais do que isso... e redopiava em círculos, usava a voz das minhas palavras na boca das outras palavras, aquelas que nunca consegui escrever, dizer amo-te é mentira, ilusão, despedida,

Saudades?

Do Tejo,

E dizer amo-te é pura loucura, desilusão... sei lá que mais...

(à escolha)

E diziam-me que aqui existiam verdejantes barcos com asas em porcelana... pode lá ser...

E é, e é... é assim desde que partiste...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 21 de Dezembro de 2013


20.12.13

Não sabia a ninguém

não tinha palavras para gritar contra o muro da tristeza

tinha na boca uma sonâmbula ausência de esperança

não tinha cigarros

apetecia-me tanto fumar cigarros

e lá fora

sentia o burburinho das folhas molhadas

o cansaço das árvores que deixavam sobre o passeio empedrado... pequenos braços

em abraços

a janela tremia como se o frio nocturno de Trás-os-Montes acordasse nesta rua enlouquecida da cidade do Porto

eu tremia e todos tremíamos...

e irritava-me o caudal constante da corrida do metro em frente à janela do Inferno...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 20 de Dezembro de 2013

 

(provavelmente este será o último poema/texto de 2013... ou não)


19.12.13

foto de: A&M ART and Photos

 

tudo parece desabar

o tecto da sala de jantar cai como pedaços de sonho

desfeitos

irrealizáveis...

tristes os beijos do cansaço

quando a insónia dorme na mão das pétalas doiradas das abelhas em flor

tudo

até o meu cão consegue chorar

e eu

eu não...

tudo parece

os espelhos são-no e não me dou conta da algazarra das vozes entristecidas

 

doidas...

doidas... varridas

 

tudo é comestível

a dor

e as lágrimas...

as palavras

e as árvores de rapina

os pássaros com ramos envenenados...

são

são comestíveis e vejo-os na tela da saudade

a dor e as lágrimas...

as palavras

tudo parece desabar...

morrer... como morrem as lágrimas de chorar.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 19 de Dezembro de 2013

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