Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


30.11.14

Sinto as tuas mãos

meu marinheiro iletrado

ensanguentadas

poisadas nos meus ombros de xisto

o rio se entranha nas minhas veias

no meu peito socalcos se embriagam

e sentem

o peso da despedida,

 

a lentidão da esperança

mergulhada no lixo poético do meu cansaço

e há mulheres tão lindas... esperando um abraço,

 

e há mulheres tão lindas... esperando um beijo

e sinto

as tuas mãos meu marinheiro iletrado

quando as candeias da saudade acordam

e fingem

que hoje é dia dos tentáculos de sal

das palavras enxertadas de insónia

e meu querido...

as minhas palavras são a febre que alimentam as hélices do corpo em cio

e do clitóris da estória...

sinto as tuas mãos...

meu querido!

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 30 de Novembro de 2014


29.11.14

A astronomia loucura do profeta

as paredes encarceradas do guerreiro desconhecido

à força e pela força

o cansaço espaço de luz nos confins rochedos da melancolia

a astronomia

embriagada pelos momentos sem pressa

numa carta de despedida

sem palavras

ou... ou remetente

uma aventura na escuridão da cama do sonambulismo

os cigarros absorvidos pela morte do fumo colorido...

e um caixão de espuma poisado nos alicerces da canção de revolta

 

cessem este destino

e o silêncio

da atmosfera encarnada em comestíveis soluços de desejo

a astronomia loucura do profeta

sentado em frente ao espelho da agonia

sem sentido

sem... sem melodia

antes de acordar o dia

 

o vento sofrido

o corpo mordido pelos meus dedos

o odor embalsamado do prazer

em finíssimos gemidos

e uivos...

e no entanto

não existem ruas na minha mão

casas

flores

nada

apenas... um rio adormecido numa fotografia

e um Domingo desorganizado e despido...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 29 de Novembro de 2014


25.11.14

Marinheiro

cansado das palavras sem título

que se acomoda com as tempestades

marinheiro... invisível

come saudades

e... e alguns versos

não dorme

não consegue sonhar

e não acredita no futuro...

marinheiro infernal

que veste um esqueleto de algas

e cobre o cabelo com o jornal

marinheiro ensanguentado

que finge olhar as estrelas

e o luar

marinheiro

cansado das palavras...

dos barcos de papel

e dos Oceanos de prata

marinheiro embalsamado que se esconde na praia

imagina corpos enlatados

e pássaros em silêncio...

ouve os sons melódicos da noite

como se a noite fosse música

ou... ou um poema em ascensão

ou... ou um poema com odor a morte

marinheiro

marinheiro das palavras

marinheiro sem sorte

e ele não sabe que junto ao Tejo

habitam as lágrimas do espelho da solidão...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 25 de Novembro de 2014


23.11.14

A fuinha lâmina de luz inventando vulcões e sonhos de papel, à tarde regressam a casa os comboios emagrecidos da saudade, abro a porta, entro dentro do túnel das imagens a preto e branco, e

Meu irmão, amanhã nada seremos,

Pó e pedaços de cinza em evolução,

E cascalho descendo a montanha do sofrimento,

Amo-te...

Sinto-te nas sombras enigmáticas dos poemas em hibernação, nada há a acrescentar ao teu nome, perdeu-se, morreu nas pálpebras inchadas da madrugada,

Amo-te...

Não o sei, não percebo as viagens sem regresso, a morte quando disfarçada de viajante e acompanhada pelas ruas de uma cidade em destruição, amanhã

O telhado estremece, as fendas sonoras das paredes em xisto... parecem melodias embriagadas que só a noite consegue entender, amanhã

Amanhã os cinzentos barcos de espuma, os miúdos esperando a neblina para se esconderem da chuva, uma criança insemina-se no papel esquecido num banco de jardim, há plátanos centenários que me olham, e conversam comigo,

Amanhã...

Nada,

Incógnitas,

Futuro incerto,

Lâminas de ossos envenenados quase em decomposição, tenho medo, meu irmão, tenho medo da despedida, dos abraços e dos beijos sem palavras,

Amo-te... algum dia voltarei a alicerçar-me aos teus braços,

Amanhã...

Nada,

Incógnitas,

Futuro incerto, relatórios, falsas esperanças, rostos deformados, corpos pincelado de decadência..., amanhã

Nada,

Incógnitas

Amanhã estarei ao teu lado, pegarei na tua mão... lemos em conjunto os poemas que escrevi para ti e nunca os conseguiste ler, por medo, por... por vergonha de mim, não, não meu irmão,

Amanhã renasceremos das cinzas que sobejarem do corpo dele, e nada, nada a acrescentar aos teus lamentos, o que importa estarmos a lamentarmos-nos se ele

Amanhã,

Ele voará em direcção às nuvens invisíveis dos Oceanos, inchadas, as pálpebras, incógnitas disfarçadas de mendicidade, e tu

Amo-te... algum dia voltarei a alicerçar-me aos teus braços,

E tu calmamente caminhando lado a lado com o metro de superfície... odeio-o, não aguento mais senti-lo, não aguento mais ouvir os seus gemidos como gaivotas em cio, como pássaros ao cair da noite,

Torturam-me, obrigam-me a olhá-lo enquanto me encerram numa sala exígua e triste, nada posso fazer... se não

Amanhã,

Se não imaginar aquela lagarta recheada de transeuntes em passo apressado, mendigos à porta, pedindo o que é impossível dar-lhes

A vida,

Amanhã pegarei na tua mão, e

Ontem esqueci-me de comer, ontem esqueci-me de olhar-te, não o consigo, pareces uma sombra esperando o acordar da madrugada,

E

E ninguém para conversar, desabafar, ninguém para me ouvir e repetir os gritos que só o silêncio conhece...

E vem o mar,

E vem a saudade, os beijos, os abraços,

Amanhã não,

Não, não...

Amanhã não estarei no teu conforto, nunca consegui permanecer eternamente nos teus braços, fujo, finjo que tenho sono, e não o tenho...

Dormir,

Porque amanhã,

As imagens a preto e branco dos teus olhos, sem lágrimas, sem estátuas de marfim, e no entanto

Poisas em mim como uma bandeira hasteada nos dedos cremados da inocência, o sexo permanece clandestino, nas palavras, nos actos, na... na incógnita do adeus,

Sentir-me-ei uma constelação em vibração, eu sentir-me-ei uma hélice congestionada numa qualquer estrada sem saída,

Preciso de ti, meu irmão,

Amanhã,

Amanhã não,

Não, não...

 

 

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 23 de Novembro de 2014


22.11.14

Queimaste a insígnia da paixão no sonífero adeus da tempestade,

dormes profundamente só...

e te alimentas das insignificantes metáforas da saudade,

trazes nas lágrimas uma canção por escrever,

um poema se ergue na tua mão,

e sem o saberes...

habitas na calandra encaixotada do sofrimento,

não sei se algum dia serei teu,

não sei... não sei se lá fora há sol ou escuridão,

se é dia,

noite...

ou... uma mistura de tons com odor a infância,

um barco encalha nos teus seios,

transpiras... gemes as sílabas do prazer,

esperas pelo nascer da madrugada,

quando hoje não haverá madrugada,

quando hoje... não acontecerá nada...

se é dia,

noite...

ou... ou um pincel disparado pela espingarda da solidão,

e se entranha no teu sorriso...

e no entanto,

queimaste a insígnia da paixão,

como quem apaga um cigarro depois de te amar.

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 22 de Novembro de 2014

Pág. 1/3

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub