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francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


31.05.15

Este negro espelho

Abraçado à solidão do cansaço

O sonho embainhado nos alicerces da noite

Como se a noite fosse o cobertor

Protector

Da alegria

Não sentida

A vida a escoar-se montanha abaixo

E o rio enforcado no socalco esquecido pelo homem

Dos sonhos

Entre sonhos

A poeira das fotografias,

 

Abandonadas

E perdidas,

 

Este negro espelho

Sem coração

Que o dia entristece

E aquece

Na lareira da dor,

 

E há uma fogueira no meu peito

E há um esconderijo nos meus braços

Prateados

Das doces pálpebras do destino,

 

O menino,

 

Este negro espelho

Espantalho do sofrimento

Que só o sono consegue alimentar

E na lareira da dor

As cinzas parcas dos eléctricos

A cidade ignora-me

Mas não me importo com as cidades

Os rios

O mar

Os barcos

O menino…

Perdido na esperança de acordar.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 31 de Maio de 2015


30.05.15

Este sítio está morto

E mortas se sentem as minhas palavras

Este sítio deserto

Amargo

Incerto

Está morto

Cansado

Este sítio está morto

Este sítio é um rochedo de insónia

Estampado no rosto do amanhecer

Este livro

Este sítio

 

Mortos

Mortas

Incertas

Certas

Certas noites me ignora

Certas noites

Não muitas

Chora…

 

Este sítio em constante sofrer

Quando o corpo range como os gonzos da madrugada

Não há sorrisos

Não há gestos

Certos

Incertos

Sítios

Mortos

Vivos

Homens

Esqueletos

De vidro

 

E se partem

E se partem

Todos os sítios mortos

Não mortos

E vivos…

 

Vivos

Mortos-vivos

 

E sítios… sítios amargurados.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 30 de Maio de 2015


28.05.15

Podíamos falar da vida,

Podíamos recordar aquilo que se perdeu no tempo,

Algures no Oceano,

Podíamos falar…

Podíamos brincar

Nas palavras

Como fazíamos na sombra da seara dos olhos negros,

Podíamos,

Algures,

Hoje,

Amanhã…

Amanhã não o sei,

 

Se o teu álbum de fotografia sorri para mim,

É tão difícil desenhar-te um sorriso,

Meu amor,

Podíamos,

Podíamos brincar no Tejo com barquinhos em papel,

Papagaios coloridos…

Voando,

Voando,

Voando até se abraçarem no luar,

Podíamos sonhar,

E hoje,

E hoje não sonhos,

 

Nem Primavera,

E hoje

E hoje podíamos brincar no silêncio das arcadas em flor,

Apelidavam-nos de loucos,

Dois loucos que deixaram de poder,

Brincar,

Voar,

Sofrer

Ou deixar a planície entrar nas nossas mãos,

E podíamos,

Amanhã,

Ontem,

 

Mas hoje…

Não podemos falar da vida,

Não temos vida,

Palavras,

Sonhos

E migalhas,

 

Como se fossemos dois cadáveres putrefactos ao pôr-do-sol…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 28 de Maio de 2015


27.05.15

Os ossos envenenados pela paixão do desejo,

 

A poeira do cansaço

Entre envidraçados

E pilares de areia,

As lágrimas do incenso…

Fundeadas nos teus braços,

E não há maneira de acordar a madrugada,

Deito-me na cidade em lágrimas,

Sou absorvido pelos guindastes da solidão,

Os barcos,

O corpo sem coração…

Loucos

E poucos,

 

No calendário sem amanhecer,

Sinto-me um livro a arder

No centro do Tejo,

Sou abalroado pelos cacilheiros em papel,

Não tenho medo do silêncio,

E das casas sem telhado,

Não tenho medo das palavras

E dos desenhos não desenhados,

Os ossos

Masturbam-se no líquido pincelado do Adeus

Também ele… docemente

Envenenado pela paixão do desejo…

 

E amanhã

Uma cancela de sombra será derrubada,

Tomba,

E desaparece dos jardins onde poisam os teus cabelos,

 

E para quê?

 

O dizer

Sem o querer

Apenas porque estou sentado sobre um corpo sem coração…

E pum. Termina o dia. Apagam-se todas as luzes. E pum…

Docemente

Uma pomba dorme no parapeito da minha janela.

 

E pum.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 27 de Maio de 2015


23.05.15

O amor das pedras

Quando as pedras são pessoas

E as pessoas

Pedras

Sombras

Noite

Clara

Escura

Negra

A paixão

Das pessoas

Das pedras

Boas

Voar

Sobre

Voar sobre os telhados de vidro

E sonhar com pássaros em papel

O fumo

Do teu olhar

Regressa aos meus lábios em sono

A alegria

De chorar

Porquê

Se amanhã

Voar

No mar

Sobre o mar

Das pedras

Boas

Voas

Tu

Voar…

Voar sobre o meu peito de xisto

E ao longe

Socalcos

E luz

Entre candeias

E palavras

De nada

Obrigado

O poema ama

É vida

É viver

Em nada

Com nada

A morte

A morte ensanguentada

E sem morada

Nem chegada…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 23 de Maio de 2015

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