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Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.

Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.


28.02.17

Chove dentro de mim

O silêncio da madrugada,

Habito este corpo de porcelana queimada,

Como os pássaros do meu quintal ao entardecer…

Ardem,

Fogem da minha mão até se esconderem no infinito,

O deserto regressa numa jangada em pedra polida…

Triste,

Cansada,

Triste,

Amordaçada,

Chove dentro de mim

O silêncio da madrugada,

E das noites embriagadas,

Oiço o teu ventre sorrir na alvorada,

Uma lágrima de sono,

Não é nada,

Apenas o reflexo das palavras em suicídio

Que alimentam o poema da desgraça,

Tudo é triste,

E tudo morre numa tábua triturada pela solidão,

Que não resiste,

E assiste…

Ao complexo rio da saudade,

Faço-me à estrada,

Levanto as amarras deste porto nocturno do desgosto

Que trago sobre os ombros,

Vivo na cidade cansada,

Vivo na rua das esplanadas de vidro

Que a morte inventa na minha voz,

Este sítio vadio que não vem nos livros,

Este cansaço de pedra que tritura o pequeno-almoço ao acordar,

Triste,

Cansada,

Amordaçada… esta barcaça em delírio,

Este simples rio

Que traz nos lábios o frio,

A ardósia do desassossego na ponta dos dedos,

A mão alicerçada no medo encapuçado pelo destino,

Morro,

Vivo,

E sinto… e sinto a explosão do sofrimento

Sobre os rochedos dos tristes milagres enjoados…

Este cansaço,

Meu amigo,

Este cansaço meu amigo que me atormenta dia e noite…

Sem que eu saiba

Que chove dentro de mim

O silêncio da madrugada,

Stop.

Amanhã será outro dia nas páginas da desgraça…

 

 

Francisco Luís Fontinha

28/02/17


20.02.17

Canso-me das palavras que não dizes
E escondes nas paredes do silêncio,
Canso-me das palavras que não escreves
E semeias nas searas abandonadas do sono,
Canso-me da ausência
Quando o meu corpo tem peso, centro de massa…
E voa em redor das andorinhas em flor,
Canso-me dos beijos desenhados
Na tela da solidão, e tão ínfima é a minha mão
Que afaga o teu rosto de xisto,
Canso-me das planícies onde te escondes,
Como se fosses uma criança amedrontada,
Palavras,
Cansaço,
Canso-me dos rios obsoletos das cidades embriagadas…
Depois da despedida,
Canso-me tanto, tanto meu amor,
Que até me canso de ti…
Canso-me do sol,
Da lua,
E da noite,
Canso-me da escrita,
Canso-me da leitura e dos desenhos sem nexo…
Que brotam do meu sorriso,
Canso-me da luz,
Canso-me da luz e das ruas sem saída,
Que se perdem numa qualquer avenida,
Canso-me,
Canso-me das palavras daninhas, nos terrenos baldios,
Canso-me, tanto meu amor,
Que este cansaço vai acompanhar-me até à morte…



Francisco Luís Fontinha
20/02/17


17.02.17

Triste a vida de marinheiro,

Prisioneiro

Neste porto sem nome,

 

Estes socalcos me enganam

E abraçam o rio da saudade,

Estes socalcos lapidados na sombra da noite

Quando regressa a verdade,

E tenho no corpo o medo da revolta,

E tenho nas mãos o silêncio que não volta,

Estes socalcos da triste vida de marinheiro,

Prisioneiro

Neste porto sem nome…

E distante da madrugada,

 

Nem idade,

Nem dinheiro,

 

Triste,

Triste a vida de marinheiro

Assombrado pelo amanhecer do desejo

Que se perde num beijo…

 

Nem cidade,

Nem dinheiro,

 

E no tempo se esquece o coração de prata

Das marés loiras que o mar desajeita

E rejeita

Contra a corrente,

 

Triste a vida de marinheiro…

Triste,

Triste na cidade ausente.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

17/02/17

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