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francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


30.05.20

A terra gira e volta a girar,

Corre, corre, sem parar,

A terra é ula lágrima,

Nos lábios do mar.

A terra gira e volta a girar,

Corre, corre, sem parar,

A terra é silencio,

Que não se cansa de trabalhar.

A terra gira e volta a girar,

Corre, corre, sem parar,

A terra é amor,

É desejo no ar,

A terra gira e volta a girar,

Corre, corre, sem parar,

A terra é a cidade,

A cidade do madrugar.

A terra gira e volta a girar,

Corre, corre, sem parar,

Ai terra meu amor,

Amor de amar.

A terra gira e volta a girar,

Corre, corre, sem parar,

A terra são palavras,

Palavras de falar,

A terra gira e volta a girar,

Corre, corre, sem parar,

A terra na madrugada,

A terra do Luar,

A terra gira e volta a girar,

Corre, corre, sem parar,

A terra é ula lágrima,

Nos lábios do mar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30-05-2020


22.05.20

Os poemas da morte,

Palavras tristes no nevoeiro da manhã,

Cancelas à sorte,

Abertas, campestres sentimentos de partir,

Regressar sem regresso,

Fugir,

Cansaço premeditado que apenas os livros vivem,

Palavras,

Ditados,

Nos poisos sonolentos das montanhas.

As flores negras que a tarde come,

Que alimenta o silêncio da sombra,

Tem nos olhos uma lágrima de vidro,

Quando se levanta sobre o capim,

A sanzala do adeus.

Uma finíssima porta de luz,

Uma janela pincelada pelo desejo,

Um nome escrito na sombra,

Que incendeia a noite.

A melancolia,

Com fome de matar,

Uma enxada carregada sobre os ombros,

A terra, húmida vaidade,

Nas flores dos rochedos cinzentos.

Vive na sanzala do adeus,

O menino dos calções invisíveis,

Livros, papel cansado de sonhar,

Nos lábios de uma laranja.

Salto, grito, deito-me na água do rio,

Morro e, levo comigo a mensagem,

Trazem-me a toalha da poesia,

Porque neste caminhar,

Não caminho,

Apenas durmo,

Ou sonho que dormia.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22-05-2020


21.05.20

(a pequenina bola de algodão)

 

 

No mar. Embrulhada nas palavras, a pequenina bola de algodão saboreava as sílabas do desejo, inventava paisagens perto de um rio, esquelético, frio e, ausente, a pequenina bola de algodão sabia que um dia, do mar, o seu mar, regressaria a paixão dos peixes, os poemas e, algo mais estranho do que simples palavras; a ausência de.

Dormia no sótão dos beijos, tinha sobre a cama algumas bonecas de trapos, a quem diariamente, penteava como se fossem searas de trigo abraçadas ao vento, do rio, o cheiro intenso a lágrimas de despedida, como quem parte e nunca mais regressa, ao destino, fugia-lhe sempre que podia, pois da ausência, a ausência escrevia nas suas mãos as tempestades de música, alguns desenhos e, livros.

No mar. Sentava-se num rochedo de silêncio, desenhava na areia as paisagens brancas da infância, pequenas luzes multicolores que habitavam do outro lado do sótão, como as flores murchas de um jardim envelhecido. Todas as noites jazia gritos nas janelas sombreadas da cidade dos vidros, adormecia agarrada aos braços do poeta, enquanto ele, fumava cigarros invisíveis e, dos incêndios clandestinos da manhã, outras gravuras se levantavam do chão; é tarde, meu amor e, amanhã, sempre que possa, a lonjura da solidão será apenas uma fotografia, velha e, ténue.

Velha e rabugenta. No mar. do mar. a pequenina bola de algodão, todas as tardes, banhava-se nos imperfeitos nevoeiros que longinquamente dormiam junto à tapada, as árvores e, os pássaros, como eu, como ela, desvaneciam nas pedras murchas da eira, quando o cereal já brincava e, meninos com uma bola, todos em calções, atiravam máquinas em papel contra as paredes de tangerina. Tenho medo, dizia às vezes a pequenina bola de algodão,

Do mar?

Não. No mar. Da noite cansada e vencida, das toalhas em desalinho sobre uma mesa destruída pela idade e, a velha flor, essa, não tinha medo. Beijas-me?

No mar?

Uma canção de incenso escondida na noite.

E, acordava a manhã nos teus braços de algodão. Uma canção, sempre a mesma, ausentava-se da melodia e, em pequenos gritos, alguns, renascia das húmidas tarde de Primavera.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21-05-2020


20.05.20

as palavras construídas nos teus olhos

das palavras dos sexos em delírio

às palavras sem destino

quando o mar avança

a terra se esconde

na tua mão

as palavras de nada

que eu escrevo para ti

são palavras envenenadas

palavras

cansadas

nas palavras amadas.

as palavras do menino

as palavras em lágrimas

poemas

palavras

choradas

as palavras que escuto na tua mão

quando o sol se deita na alvorada

são palavras

palavras de nada.

ai as palavras dos teus lábios

poesia que escorre pelo meu corpo

são palavras abandonadas

na tarde das palavras.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 20/05/2020


18.05.20

Em cada olhar teu,

Uma estrela me ilumina.

Em cada cansaço,

Uma nuvem de estanho se alicerça a mim,

Sorri,

E, me encaminha,

Para o teu abraço.

Em cada silêncio teu,

Um rio se ergue,

Me abraça,

E, esquece,

Que a estrela que me ilumina,

Tem nome,

É uma barcaça,

No infinito dia a terminar.

Em cada olhar teu,

O mar,

Um barco cheirando a mar,

Te beija,

E, acaricia o teu sorriso.

Em cada olhar teu,

Um coração de lata,

Foge,

Corre,

E morre na sanzala.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

18/05/2020

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