19.11.20
São doces, os lábios do poema.
São as palavras, nos lábios do poema,
Quando o mar entra pela janela.
Lá fora, gente dispersa, contínua, como a água,
A mesma água que jorra dos lábios do poema.
São estes beijos, meu amor,
Que travestidos de palavras,
Vivem nos teus lábios – o poema;
Escrevo-te enquanto tu, vestida de flor,
Danças na sombra, a mesma sombra, que beija os lábios do poema.
Percebo que as roldanas do amanhecer, antes de oleadas,
Estejam perras, doentes e cansadas,
Mas, durante a tarde, as roldanas que vivem nos lábios do poema,
Despem-se; vejo-as banharem-se no rio onde brincam os lábios do poema.
O ciúme. A paixão dos versos envenenados pelos lábios do maldito poema,
Dançam, como tu, nos lábios do poema.
Durmo docemente nas tuas asas, andorinha Primavera,
E, o amor,
E o amor nos lábios dela,
Os mesmos lábios que dançam nos lábios do poema.
É hoje, a derradeira manhã adormecida,
Despida,
Nua e envelhecida,
É hoje, meu amor,
Que todas as palavras são beijos,
Os beijos dos lábios do poema.
Francisco Luís Fontinha – Alijó, 19/11/2020