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francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


31.01.23

Abraço-me a este rio ensonado,

Olho as montanhas do teu olhar,

Sento-me neste socalco abandonado…

À espera de que a lua me venha resgatar,

 

E se a lua me levar,

Deito fora a tristeza

E todo o silêncio do mar,

Abraço-me a este rio de enorme beleza,

 

E cruzo os braços no meu silenciar,

Acendo este cigarro invisível e inventado…

Que o meu corpo vai matar,

 

E se eu morrer nos lábios deste cigarro assassino,

Deste maldito cigarro envenenado,

Peço a Deus o perdão… que perdoe este pobre menino.

 

 

 

 

Alijó, 31/01/2023

Francisco Luís Fontinha


30.01.23

Somos servomotores

Em dentadas rodas,

Temos nas mãos rotores,

Em passo motores,

Correias,

Correntes,

Vidas passadas

E vidas presentes,

 

Díodos de zener,

Amplificadores,

Montes e ventoinhas

E grandes amores,

 

Somos motores,

Suspensão,

Vielas e supositórios…

 

Tudo o que o senhor doutor queira…

 

Em todo o caso,

Pega-se num circuito integrado,

Uma pobre espingarda apaixonada,

Depois…

Lá vem a merda do silêncio

E da madrugada

E mais nada,

 

Controladores,

Drivers,

Cabelo cortado,

E quando damos conta,

Uma pobre chapa em zinco,

Foge,

Corre,

Desce do telhado,

E senta-se junto ao rio,

 

Porra – que frio,

 

E para quê tudo isto,

Se amar uma mulher é mais fácil de que construir uma ponte,

Uma cabeça zangada,

Um triste monte,

Aquele monte das árvores alegres,

 

O motor roda,

A roda fode a cabeça ao mecânico

Que coloca o motor no caixão,

(o caixão da pedrada)

O caixão fecha-se,

Deita-se,

E morre,

 

E o mecânico,

Num ápice,

À dentada,

 

Corta os fios eléctricos da alvorada,

A cachopa geme de desejo,

E do desejo,

Uma volta completa,

Deste e daquele servomotor,

 

E fodidos estão,

Todos aqueles que pensam que o díodo de zener

Não serve de apelido ao menino;

A senhora professor grita

- Menino zener,

E quando a professora gritava,

Eu, o coitado dos calções,

Apanhava mais porrada,

Do meu pai não, porque era um bacano…

Mas ficava com os cornos a arder

Com as chapadas da minha mãe,

 

E quando a minha querida mãe me perguntava

- Menino dos calções, correu bem a escola?

Eu respondia que sim,

Pois claro,

Porque mentir para mim

Significava o perdão de uma carga de porrada,

 

E assim eu me librava.

 

 

 

 

Alijó, 30/01/2023

Francisco Luís Fontinha


29.01.23

Um pedaço de mim,

É o vento que vagueia sobre o mar,

Outro pedacinho,

Muito mais pequeno de que o pedaço que vagueia sobre o mar,

Que também me pertence,

Dorme nos lábios do luar,

 

Numa das mãos, na minha mão esquerda,

Brinca uma criança mimada…

Na minha outra mão,

Cresce uma flor,

Em papel crepe,

 

E se eu pedir à madrugada

As palavras semeadas,

A madrugada não me dará nada,

 

Pelo contrário,

A madrugada dar-me-á as palavras envenenadas,

Que da minha mão esquerda,

A criança mimada,

Lança ao meu olhar,

 

Um pedaço de mim,

É xisto que dança nos socalcos do Douro adormecido,

Um pedaço,

Um pedaço de mim…

Que eu transportava sobre o meu corpo dorido,

 

Agora, em todos os meus pedacinhos,

Há um rio rectilíneo,

Sem curvas,

Sem medo…

O medo do destino,

De ser o eterno menino.

 

 

 

Alijó, 29/01/2023

Francisco Luís Fontinha


29.01.23

No sorriso de uma criança

Cresce uma flor imaginária,

Invisível como a lua em dias de silêncio,

Que conta estórias em pedacinhos de mar…

 

Do sorriso de uma criança,

De todas as crianças,

Acorda o sol desenhado por Deus,

 

No sorriso de uma criança,

Brincam as manhãs…

Todas as manhãs,

Que uma criança,

Transporta no olhar.

 

 

 

 

Alijó, 29/01/2023

Francisco Luís Fontinha


28.01.23

Traz o sono a esta lareira,

Traz nos teus lábios os incêndios da madrugada,

Traz as palavras para eu semear…

Semear nesta terra queimada,

 

Traz a tua mão,

A mão que o meu rosto vai acariciar,

Traz a lua

E a filha da lua

E o deslumbrante luar,

 

Traz-me os livros que escrevi,

Para escrever nos teus lábios,

Traz o sono a esta lareira

E todos os poemas,

E todas as estrelas

E todas as savanas,

 

Traz-me todos os rios,

Todos os mares…

Traz-me as árvores

E os pássaros de cantar,

Traz-me a chuva,

E faz com que as nuvens parem de chorar.

 

 

 

 

Alijó, 28/01/2023

Francisco Luís Fontinha

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