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Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.

Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.


08.07.23

20230708_212216.jpg

Comeram-no

Comeram-no numa noite de Verão

Junto ao apeadeiro da saudade,

Comeram-no…

Sem que ele tivesse dado conta de tal facto…

Nem um ai, deu,

Finou-se,

Acreditando que o uivar dos Lobos…

É sinal de chuva,

De carne fresca,

E mesmo assim, comeram-no,

Enquanto ele pensava…

Enquanto ele acreditava que pensava…

Como permitiria ter sido comido…,

Por um lobo em cio,

Enquanto dos ossos,

Acordavam as palavras peregrinas…

Que de joelhos…

Desenhava círculos de luz…

Com uma janelinha para o rio.

 

Comeram-no

Da carne ao cio,

Quando um dia,

Em tom de brincadeira…

Atou uma corda ao pescoço…

E lançou-se da Torre Eiffel,

 

E ninguém deu por nada,

Os anos passaram,

E já ninguém se lembrava…

Nem do lobo,

Nem do corpo que o lobo comeu,

 

E mesmo assim,

Comeram-no,

Comeram-no saciando a fome vaginal

Na construção de um poema vagabundo,

Um pouco triste, até,

E aquele homem que foi comido,

Comido pelo lobo mau…

É hoje um grande homem,

Ne negócios,

E artes circenses…

 

Estou tão feliz, hoje,

Se tivesse aqui a Dona Arminda, juro,

Juro que fumávamos um charro…

E conversávamos,

Tantas saudades de conversar…

Sei lá, mãe,

Sei lá…

De que podíamos nós conversar…

Olha, como está o tempo por aí…?

Aqui está calor, mãe,

Aqui também, meu querido.

 

Comeram-no,

Talvez numa noite de vendas a retalho,

Um subia a escada,

O outro, o outro acreditava…

E mesmo assim comeram-no

Numa praia junto ao mar,

Numa praia sem nome.

 

 

 

08/07/2023

Francisco


26.06.23

20230626_193534.jpg

Voa a paixão nas tristes árvores do desejo

Que abraça o medo da solidão,

Quando na claridade

De um beijo,

Um tamarino em tua mão

Chama a si a clepsidra da saudade,

 

E do homem que sou,

Dos meus olhos tristes no sémen das palavras envenenadas

Uma árvore se cansou

Como se cansam no fervilhar do prazer

As madrugadas que não tenho, nas madrugas em que vou,

Não vou mais viver,

 

Viver para quê, se a vida é apenas uma sombra de luar

Em direcção à morte,

E quando se vive a paixão nas tristes árvores do desejo,

No triste orvalho sem destino,

Há sempre uma flor cansada de gritar…

De gritar por aquele triste menino,

 

E deste corpo sem sorte,

A nuvem de luz sem tino

Corta a cabeça milenar das cansadas

Espadas,

Nas espadas… deste pobre menino,

Menino que espera pela morte.


28.05.23

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Desta selva

Encalhada entre o mar e a terra

Desprovida de palavras

Actos

E pequenos nadas

 

Desta selva

A selva de salve-se quem puder

O esperto ao quadrado

Até à equação diferencial do imbecil

 

Nesta selva

Pacata

Parva

E senil

Desta selva de palavras

De pontes metálicas

Desta pequena selva

Encalhada entre o mar e a terra

Actos

E de pequenos nadas

 

E os nadas são tudo

No meio das palavras

Dos actos

E do pecado

Da selva

Na selva habitada e contente

Como as estrelas

Durante a noite…

De engate em engate

 

Depois

O apito

Partida de Cais do Sodré

Alcântara mar

Mais dois apitos

Dois pirolitos

E começa a festa

Na selva

 

Da selva de salve-se quem puder

Os barcos tombam embriagados

A noite

Coitada da noite…

A noite é tão bela

Tão bela

Por isso é fria

Escura

E tímida

 

E a selva cresce

Triplica

Tem filhos

Vão à escola

E nada…

A selva morre

E deixa todos os animais tristes

 

Da selva

Belém envergonhada

Sentemo-nos então meus queridos irmãos

E irmãs

E filhos de Deus…

Sentemo-nos sobre esta sombra de giz

Junto ao Padrão dos Descobrimentos

 

Ouviam-se as pulgas

Das pulgas que labutam

Que lutam

Que trabalham…

E se fodem quando chove

 

É a selva

A selva onde habitamos

Em betão

De cartão

Com porta de abrir à direita

Com porta de abrir à esquerda

E é selva

Com um rio em tesão de sono

E pintura metalizada

 

Encostava-me ao muro da selva

Fumava

Fumava enquanto num pequeno caderninho…

Apontava os dias que se tinham suicidado em mim…

E contei

E contei…

Eram muitos

São muitos

Dias

Que não conseguiram aturar-me

E pimba

Mataram-se

No Bugio

 

Desta selva

Encalhada entre o mar e a terra

Desprovida de palavras

Actos

E pequenos nadas

E muitas coisas

Chocolates

No Bugio

Pimba

E contei

E contei…

 

 

 

Luís

28/05/2023


26.05.23

20230526_224439.jpg

Às vezes, o tudo, o tudo é o nada…

E muitas vezes, o nada…

O nada é tudo.

 

Às vezes, às vezes escrevo,

E muitas das outras vezes,

Nada,

Nem escrevo,

Nem escrevo

Nem escrevo…

 

Muitas das outras vezes que escrevo,

Escrevo.

Escrevo e sento-me.

Olho o teu retracto,

Lá estarás tua a pensar…

Coitado dele, coitado…

 

Coitado do coitado,

Que muitas das vezes, sendo ele um coitadinho…

Tem o tudo do nada do coitado,

 

Às vezes, às vezes desenho o mar,

O meu mar.

Muitas das outras vezes,

Aquelas vezes em que o coitado do coitadinho…

Nada.

Senta-se, senta-se e observa toda a matéria em lágrimas,

 

Outras vezes,

Poucas das vezes,

Sento-me e olho o teu retracto,

Tantas vezes,

Das poucas vezes que parti…

E das vezes que fui e não voltei,

Tenho alguma das vezes,

O tudo,

Quando do nada…

O tudo é nada.

 

 

 

Luís

26/05/2023


20.05.23

O meu retracto,

Por Francisco Luís Fontinha.

 

Quem sou, pergunto-me enquanto recordo o som das acácias da minha infância. Quem sou eu, depois de ter deixado a minha cidade nas sombras da saudade. Quem serei eu, quando as minhas cinzas povoarem as alegrias da minha cidade.

Acordei. Acordei acreditando que voava sobre as mangueiras do meu quintal; e claro, a minha mãe a construir papagaios em papel, depois, corríamos pela rua com a ponta do cordel na ponta dos dedos…

E eu delirava com todas aquelas cores em direcção ao infinito. Depois de todo o cordel estar esticado, ele ficava ali, quietinho, dizendo-me adeus…

E eu, eu filmava todos aqueles momentos.

Mas enquanto me olhava no espelho, olhei os meus olhos; e se me perguntassem o que dizem os meus olhos…

Puxo de um cigarro, penso. Talvez não deva pensar mais.

Penso.

E os meus olhos dizem que esta viga de seis metros, alveolar, um IPE360…, ao fim de dois segundos, morre. Colapsa.

Nós, nós demoramos muito mais a colapsar.

E os meus olhos dizem-me que são um livro de poesia, um livro que se extingue a cada dois segundos,

Colapsa.

Morre.

E os meus olhos dizem que todas as cores estão loucamente apaixonadas por todas as minhas telas,

Depois,

Colapsou.

Mas o meu retracto ainda não está completo.

Olho-me,

Penso,

E grito.

Acordei acreditando que o retracto que via no espelho, não era o meu. Acordei acreditando que a cada equação de silêncio, há um beijo desejado e uma lâmina de paixão concluída.

E a minha cidade lá está. Como todos eles lá estão.

Depois, pego no meu retracto, coloco-o no cavalete, afasto-me um pouco de ambos, e…,

Nada.

Olhava-os. Eles também me olhavam.

Sorria-lhes. Eles também me sorriram.

Somos assim.

Sorrimos uns para os outros.

Vês?

São tão lindas, mãe, são tão lindas todas estas cores…

 

 

 

Alijó, 20/05/2023

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