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Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.

Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.


28.10.13

foto de: A&M ART and Photos

 

adorava voar nos teus lábios de beijar

e escrever na tua bocas beijos de sonhar

e desenhar nas tuas mãos teclas de amar...

adorava-te ver-me em ti sabendo que não existiram despedidas

vagueadas manhãs vagabundas

noites envenenadas

e dias e dias desgraçadamente passados entre gradeamentos e clarabóias mendigas

desejava voar nos teus lábios de pergaminho

baixinho

junto ao teu coração

adorava e não consigo esquecer o mar

odiava e esqueci o nauseabundo cheiro da naftalina

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 28 de Outubro de 2013


07.10.13

foto de: A&M ART and Photos

 

Um corpo estaticamente só, um corpo submerso nas sílabas do desejo, um corpo entre montículos de saudade e rochas de insónia, uma luz alimenta este corpo, um espelho alimenta a luz que alimenta este corpo, um corpo... não é um corpo, um corpo vazio, solidificado, um corpo voando sobre a montanha da solidão,

Vens à janela, abres-te e sentes o vento em ti,

Um corpo inocente coberto pela espuma volátil do incenso, um corpo de água, só, um corpo cintilante, um corpo

Ausente?

Dorido, que não sente o corpo em corpo das flores...

Um corpo estaticamente só, um corpo submerso nas sílabas do desejo, um corpo entre montículos de saudade e rochas de insónia, um corpo poisado sobre o peito de um homem...

A imagem emagrece o corpo, a luz que alimenta este corpo, é alimentada por um outro corpo,

E o espelho depois de ser corpo.

Imagem, flutua sobre as vértebras do cansaço, e és transparente como as noites vestidas de negro, e és desejada como os pilares de areia das madrugadas em delírio, despes-te e olhas-te no espelho

(alimento a luz que alimenta o corpo)

O teu,

Quero ser um pedaço de montanha, ou um veleiro agasalhado de lareira acesa, caminhar junto a um rio com dentes em marfim, um corpo belo, desejável, um corpo em decomposição, a parte física sobre a mesa-de-cabeceira e a parte invisível dentro de mim, dentro da trovoada, das nuvens envergonhadas quando a luz ejacula sobre o abajur da tristeza e eu

O teu corpo é teu?

(alimentado pela luz que alimenta o corpo)

Desculpem... morri,

Um corpo de água, só, um corpo cintilante, um corpo

Ausente?

Quero ser o vestíbulo que habita no teu quarto secreto, a cabeça onde poisa o ombro, também ele... secreto, todo o corpo teu não existe, nunca apareceu à janela do meu castelo, o teu corpo é um embuste, falsificado, o ilustre Doutor das clarabóias domésticas que a tua mão abraça,

Quero o ser como são as palavras antes de escritas, aquelas que são pensadas e que por

Vergonha?

Pudor?

Um corpo belo esconde-se no interior de um cobertor, invento marés e mesmo assim

Não o consigo, não sou capaz que te dispas e fiques só corpo, só

Pudor?

Vergonha das palavras que tenho medo de escrever, vergonha dos beijos que tenho medo de desenhar na parede dos teus seios, o teu corpo, meandro sabático das sandálias em couro, os calções parecem perdizes brincando nos patamares no coração do Douro,

Vamos jantar?

Comer o teu corpo, ele, apenas ele... dentro do prato cerâmico, outrora em alumínio, hoje mendigo, o espelho que alimenta a luz ou a luz que alimenta o teu corpo, e uma corda feliz saltita nas mãos de uma criança...

 

(ficção – não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 7 de Outubro de 2013


23.08.13

foto de: A&M ART and Photos

 

Você voa?

Sim, eu voo, mesmo? Sim, mesmo...

A mulher dos longos cabelos foi impressa no espelho do meu desprezável quarto, com apenas uma velha cama e um ignorante guarda-fato, o dito que abraça o tal espelho, mais as teias de aranha e os mosquitos que durante a noite

Voam,

Sim amor, eu voo,

Você voa, amooor? Claro... quando bebo e coloco as asas de borboletas que utilizava na escola para me lançar da árvore do recreio... voava, voava, até que chegava ao mar, aí

Você voa, amooor? Claro, filha, eu voo, e aí...

Você me mata do coração, meuuu amooor!

E aí eu alcançava o mar, descerrava os olhinhos, e tu, você voa, amooor? E tu sentada sobre a onda castanha junto à rocha, coisa pouca, cerca de quinhentos metros da praia, eu poisava sobre você e lhe dizia baixinho

Sim, amooor, eu voo,

Lá em casa, nas vagas horas, praticávamos voo livre entre as teias de aranha e os caquécticos móveis do nosso quarto, você foi impressa ainda no tempo em que as noites tinham sorriso verde, ainda no tempo em que das noites vinham até nós as imagens a preto-e-branco e você no espelho

Você me ama, amooor?

Sei lá, não o sei, nunca percebi nada de impressoras, e este tipo a jacto de tinta... pior, nasci e habituei-me com impressoras de agulhas, não eram silenciosas, mas conseguiam imprimir-te tão facilmente no espelho do quarto que os teus seios conseguiam ser mais perfeitos de que os originais, e de conversa em conversa, deixávamos de perceber quem era quem, e quem era o verdadeiro...

Você me ama, amooor?

Porra... que você é chata, porra... que você me mata do coração, meuuu amooor!

… e quem era o verdadeiro das inúmeras imagens deitadas sobre o estirador, noites inteiras com a caneta de tinta na mão a inventar riscos sobre o papel vegetal, e você

Me ama, me dia, você me ama, amooor?

Porra... e mais um borrão, tudo de novo, lâmina de barbear, raspar, pegar no lápis borracha... e continuar com os risco até de manhã,

Depois,

Depois entranhava-se-me o sono, olhava-a e via-a impressa no espelho, bela, linda, de cabelo solto acabado de sair da água salgada, mulher do castelo com portas de aço, e ela

Você...

Não, por favor, hoje não,

E não mais, voei, poisei sobre a rocha, e não mais

Você me ama, amooor?

E não mais, e não... mas, do espelho a impressora de vinte e quatro agulhas não se cansava de imprimir os seios de chocolate da mulher do castelo com portas em aço, e sem janelas, e sem escadas, e alimentava-me dos sons desconexos da velhinha impressora, tão bela, ela, dentro do espelho, sempre em sorrisos de espuma, sempre

Você...

Por favor, não mais

Você me ama, amooor?

Não

E não mais, porque hoje és impressa e só dou conta quando tu

Você me ama, amooor?

E tu

Não, não mais, e tu

Você?

Voa?

 

 

(não revisto – Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 23 de Agosto de 2013


04.08.13

foto de: A&M ART and Photos

 

Dia de voar sobre as árvores..., estava escrito no teu braço esquerdo, li, fiquei indiferente, regressei e percebi que sim, que era Domingo, e que aos Domingos voávamos sobre as árvores,

E que dos teus olhos Margarida brincavam as pálpebras encarnadas do desejo, cerrei os meus olhos, e vi, começaste a levitar em pedacinhos milímetros de cada vez, e quando percebi, pouco importava já, tinhas-te diluído com a neblina acabada de nascer,

Dia de voar?

E vi, e aos poucos entraste nos meus olhos, despias-te, e vagueavas como uma andorinha de íris em íris..., até que acordei, abri os olhos, e tu, não estavas, e tu, não existias em mim..., dobravas-te sobre a neblina, o sombreado teu corpo mergulha no espelho do calendário suspenso na parede da cozinha, cheiravas a naftalina, a roupa despida numa tarde de Domingo, dia, de voar,

voar?

Sim, minha querida, sim, voar sobre a planície dos arbustos domésticos, voar sobre as árvores, porque

Hoje é Domingo,

Porque uma criança em birra não come a sopa, porque um palhaço no circo, triste, deixa de fazer rir, porque...

Hoje

Domingo,

Porque vejo nos teus olhos o desejo de seres desejada, porque invento histórias quando as nuvens descem sobre nós, eu, e tu, e lá fora a mesma criança que muito há pouco fez uma enorme birra devido a não querer,

Não quero, não gosto de sopa,

Tu, tu esqueceste-te de mim, tu cerraste os lábios e proibiste-me os beijos, tu, tu cerraste os olhos e proibiste-me os olhares Primaveris de quando passeavas nos jardins do Palácio, Belém fervilhava, fervilha, como tu, quando te despes, como tu, quando te desembaraças de todas as tuas roupas e me dás as mãos e

Domingo,

Dia de voar sobre as árvores..., estava escrito no teu braço esquerdo, li, fiquei indiferente, regressei e percebi que sim, que era Domingo, e que aos Domingos voávamos sobre as árvores, e que hoje vamos começar a voar sobre as árvores, sem roupa, apenas tu, apenas eu, e um dia, não Domingo, um outro dia

Vais, sim, acredito, um outro dia vais tocar para mim, só para mim,

Um outro dia, os sons melódicos do teu piano e as gotículas de suor da tua pele poética, não Domingo, não, um outro dia, tu, tu vais tocar só para mim, e eu, e eu poisarei a minha cabeça sobre o teu ombro, inventarei uma tempestade para ficares dentro da sala, eu, tu e o teu piano, Domingo, não

Domingo não,

Talvez um dia, talvez uma bela manhã, talvez numa feliz noite de inverno, livros, o piano, tu e a lareira..., mas

Domingo?

Mas...,

E vi, e aos poucos entraste nos meus olhos, despias-te, e vagueavas como uma andorinha de íris em íris..., até que acordei, abri os olhos, e tu, tu não estavas, e tu, não existias em mim..., dobravas-te sobre a neblina, enrolavas-te como uma rosa bravia, ias à janela e ficavas a olhar as notas musicais dos teus dedos a despedirem-se do Domingo...

Não, Domingo, não, não Domingo,

E sorrias no prazer dos pássaros, antes, muito antes do teu corpo silenciar-se na nocturna insónia em pequenos desejos masturbais...

Desejar-te desejo, como às palavras ainda não escritas, soltas e vagabundas...

Domingo?

Não, não Domingo.

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó


25.03.13

foto: A&M ART and Photos

 

É vê-los partir como andorinhas envergonhadas, fogem, escondem-se como as ratazanas debaixo das pedras frágeis das calçadas de areia, inventam o sono, memorizam números como do primeiro beijo se tratasse, recordam as portas calafetadas e as janelas com os vidros estilhaçados pelos suspiros que o amor provoca nas primeiras horas da manhã, uma parede sem palavras escritas, mórbidamente suspensa numa corda de nylon, diz o povo que se enforcou, de uma casa, e do primeiro andar, uma varanda, uma grade em ferro, e imagens desfocadas, mortas, que nunca existiram na realidade, tocava o telefone, uma enorme e velha campainha como o sono quando demorava a regressar, aproveitava entre toque para contar os carneiros que deambulavam no tecto do quarto, e quase sempre

Faltam-me dois carneiros, E a esposa dizia-lhe Deixa lá marido, o que são dois carneiros?

Tirando a lã, nada,

E antes de pegar no auscultador mais pesado do que um saco de cimento, queixava-se da dor sobre os ombros, e mentalmente não se recordava de qualquer esforço extra, mas claro, como ele às vezes fazia menção de dizer, A idade avança e os meus ossos já precisavam de reforma, e de tempo, e de melancolia, e das noites, e avariadas quando entravam porta adentro um esquadrão de

Ratazanas?

E tirando a lã, nada,

Não, claro que não,

Pegava no auscultador e do outro lado da ardósia parede de gesso, ouvia a voz mais pequena quase do mundo, mas neste caso, a voz mais pequena da aldeia dos macacos, Tou, Tio?

Sim, Sou o Francisco!

Saudades tio, saudades...

Deve estar a precisar de dinheiro, só me conhece para isto, este miserável,

Diz lá rapaz, alguns problema?

(É vê-los partir como andorinhas envergonhadas, fogem, escondem-se como as ratazanas debaixo das pedras frágeis das calçadas de areia, inventam o sono, memorizam números como do primeiro beijo se tratasse, recordam as portas calafetadas e as janelas com os vidros estilhaçados pelos suspiros que o amor provoca nas primeiras horas da manhã, uma parede sem palavras escritas, mórbidamente suspensa numa corda de nylon, diz o povo que se enforcou, de uma casa, e do primeiro andar, uma varanda)

Era só para o ouvir, respondia-lhe ele, e claro, pensativamente vinha a desconfiança, porque ninguém telefona a outro alguém, apenas para o ouvir, ou

Saudades da sua voz,

(Chaleiro)

Ou,

Ratazanas?

E tirando a lã, nada,

Não, claro que não,

Saudades, claro, também eu, do granito clandestino de que eram construídas as clarabóias com pedaços de cartão reciclado, e quando alguém batia à porta, ele

Tou?

Sou eu, tio Francisco!

Agora este deve pensar que sou o novo Papa, Sou Francisco, claro, mas um simples Francisco, menos do que as flores e os pássaros e as pontes, menos ainda do que as

Ratazanas?

Claro, sim, talvez,

É vê-los partir como andorinhas envergonhadas, fogem, escondem-se como as ratazanas debaixo das pedras frágeis das calçadas de areia, inventam o sono, sinto nas minhas coxas calcinadas pelo odor do primeiro beijo as nuvens de porcelana que Deuz se esqueceu sobre a mesa da cozinha, sentada, não sei, o que fazer

Talvez, claro, quem sabe,

Porque não me amas, e confesso que não sei responder-te, não sei, tal como tu não consegues perceber a razão do teu sobrinho segredar-te que tem

Saudades?

Sim, claro, talvez,

Não sei,

Tou? Sou eu tio Francisco, Diz lá rapaz?

Digo,

Quem pode ter saudades da voz de um homem velho, cansado, com duzentos e seis ossos pesados como chumbo, húmidos, pronto no cais de embarque, quando ele tem a certeza que não regressará mais

Aquela manhã de Novembro,

Aquele sonho de açúcar,

Ou,

O toque do telefone, Saudades da tua voz, tio Francisco, nada mais...

Ou,

Saudades de voar, querido sobrinho.

 

(ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

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