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francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


22.03.23

No esplendor da noite

Um fio de sémen

Poisa na sombra adormecida do meu esqueleto,

E da paixão dos pássaros,

Oiço os gritos de um Deus arrogante…

Distante dos rostos envenenados da solidão,

 

O rio,

Morre na minha mão…

Como morreram todos os rios,

Como se suicidaram todos os rios que conheci…

Todos,

Todos na minha mão,

 

Desenho no teu pincelado olhar

A tristeza que os dias transportam desde a montanha,

O sol, o sol esconde-se numa pequena caixa de sapatos,

E do corpo,

As pequenas lâminas da alegria…

Fogem em direcção ao mar,

 

Cai a máscara sobre o chão lamacento do silêncio,

Ouvem-se os gritos e gemidos da morte…

E da minha mão,

O enforcado rio em pedacinhos de sorriso…

Feliz;

Feliz porque deixou de sofrer…

E agora…

Brinca dentro de um cubo de vidro

Com janelas adormecidas

E olhos adormecidos…

 

 

 

Alijó, 22/03/2023

Francisco Luís Fontinha


05.02.23

Poiso os meus braços

Nos teus braços,

 

Viajo nos teus lábios,

Pequena flor da madrugada,

Enquanto as árvores do meu jardim

Brincam nos teus olhos de mar,

 

Beijo o teu corpo,

Acendo a lareira do teu desejo,

 

Viajo nos teus lábios,

Incêndio das nocturnas noites de luar,

Presépio impresso em papeis de areia…

Poiso os meus braços,

Nos teus doces braços,

E a manhã é um cortinado colorido

Sem tristeza,

Sem nuvens…

Sem alarido.

 

 

 

 

Alijó, 05/02/2023

Francisco Luís Fontinha


22.01.23

Nos teus olhos,

Madrugada sem nome,

Quando me tocas

E sinto o rio da paixão que brinca no meu peito,

 

Quando me tocas

E poisas sobre mim,

As estrelas dos teus lábios,

E deixas ficar no meu corpo

A alvorada nas mãos de uma criança,

 

E nos teus olhos,

Quão luar das noites de insónia,

O primeiro beijo…

No beijo dos teus olhos de mel.

 

 

 

 

Alijó, 22/01/2023

Francisco Luís Fontinha


17.01.23

Há-de regressar a metástase do silêncio

Ao teu corpo desengonçado

Enquanto este rio de sangue

Corre para as umbreiras do amanhecer,

 

Há-de regressar deste rio sangrento

A fome e a peste

A solidão

E as amendoeiras em flor,

 

Há-de regressar a metástase do silêncio

Da fina flor desenhada

Deste pobre corpo

O corpo dependurado na manhã,

 

Há-de regressar

Regressar às sonâmbulas madrugadas

O sorriso suspenso nos teus olhos

Quando das metástases do silêncio

 

Este corpo

Corpo que dizem que me pertence

Que não acredito

Porque já nada me pertence

Se alegra na noite de mim.

 

 

 

 

Alijó, 17/01/2023

Francisco Luís Fontinha


14.01.23

Descobri agora que sou o espermatozóide número trezentos milhões, ao meu lado, já algo cansado, tinha o espermatozóide número duzentos milhões; e quase ao mesmo tempo, quando chegados ao óvulo, pimba.

Éramos dois à entrada, depois, passado algum tempo, e devido a uma qualquer avaria na linha de montagem (parece que o engenheiro responsável tinha saído e o operador da DEX34CD, máquina de grandiosa importância, tinha ido cagar às traseiras), ficamos apenas um.

Isto tudo para o autor demonstrar que dentro dele vivem dois gajos; o mesmo corpo, os mesmos lábios, o mesmo pénis e de feitios diferentes.

O meu pai, homem de muita sorte, porque tendo dois rapazes habitando ambos apenas um corpo, só teria de fazer uma única despesa. Só teria no futuro de comprar um par de calças em vez de dois, um par de sapatos em vez de dois e assim por diante…

Crescemos, um gostava do mar, o outro, pelo contrário, não gostava do mar. Um gostava do dia, quanto ao outro, odiava o dia e amava a noite, enquanto o outro que amava o dia, e de vez em quando, amava a noite, fugiu um dia do dia e abraçou-se também ele à noite.

Enquanto um fode o outro olha e enquanto o outro olha o outro fode.

E assim temos vivido e assim vamos morrer; um a foder o outro.

 

 

 

 

 

Alijó, 14/01/2023

Francisco Luís Fontinha

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