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Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.

Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.


23.07.23

Esta árvore que chora

Esta árvore em sofrimento

Pobre desta árvore

Que aqui não mora

E daqui grita pelo vento.

 

Esta árvore em solidão

Suspensa numa sombra de nada

Pobre desta árvore

Que não tem coração

Nem tem madrugada.

 

Esta árvore embriagada

Esta árvore em pequenos silêncios do amanhecer

Pobre desta árvore

Desta árvore envenenada

Nesta árvore sem vontade de viver.

 

 

 

23/07/2023

Francisco


06.07.23

20230706_204606.jpg

Escondo-me na floresta dos silêncios

Onde aprisiono as palavras da madrugada,

Levito pelas sombras em silêncio

Que brincam nesta floresta

Como uma árvore cansada…

Em busca do pôr-do-sol,

 

Encosto-me às sombras do silêncio

E procuro a solidão da noite,

E procuro a minha alma

Que vendi noutros tempos…

A um triste caixeiro-viajante,

 

Escondo-me na floresta da tristeza

Nas garras de um prometido luar…

Enquanto uma estrela cinzenta,

Em lágrimas…

Procura no silêncio onde me escondo,

Desta floresta dos silêncios…

As tristes minhas madrugadas,

 

Escondo-me dos dias,

Das horas dos dias…

E que a morte regresse…

Para levar para longe,

Este poeta que há em mim…

E todos os poemas que escrevi…

Acreditando

Que da floresta dos silêncios

Um dia… um dia nascerá a saudade,

 

E quando o poeta morrer,

Se Deus quiser que seja breve…

Na floresta dos silêncios

Ficarão as minhas palavras,

E um pedacinho do mar que tanto amei…

E que antes de morrer…

Prometo odiar

E inventar nestas árvores invisíveis…

O sonho de uma criança,

No sonho das lágrimas que a insónia transforma em poesia.

 

 

 

 

06/07/2023

Francisco


02.07.23

20230702_111449.jpg

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração, mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.

AL Berto)

 

 

 

Meu querido,

Percebo que tiveste a sorte de ter uma pérola no coração,

E que devido à tua solidão…

Não tinhas a quem a deixar…

 

Eu, meu querido,

Nunca tive uma pérola no coração,

Nem diamante…

Nem coisa alguma,

Nem coisa nenhuma…

E sabes, meu querido, não tenho coração…

Mas se tivesse coração,

E se no meu coração existisse alguma coisa…

Também não tinha a quem a deixar…

 

Porque estou só,

Muito só…

 

 

 

Francisco


18.04.23

Invento o sono

Nos teus lábios de doce mel

Quando a manhã se ergue.

Invento a solidão

Apenas porque preciso da solidão

Apenas…

Apenas porque eu sou a solidão.

 

Invento o Inverno

Invento a geada

Queixo-me da Primavera

Enquanto me perco em invenções…

A Terra gira

E Deus… olha-me

Incrédulo

Olha-me como se eu fosse um louco

Ou “o velho e o mar” de Hemingway

E depois…

Depois percebo que sou o louco

E sou realmente o velho

O velho sem o mar…

 

Invento este vadio sono

Na esperança de que a ausência me leve

Ou o vento me leve

Ou o vento me traga

A insónia

Invento tudo isto

Na esperança de um dia me sentar em frente ao mar…

E esperar que alguém me venha resgatar.

 

 

 

 

Alijó, 18/04/2023

Francisco Luís Fontinha


06.04.23

Cresci

Acreditando num Deus

Pedia-lhe coisas

Muitas coisas

Era um círculo de luz com olhos verdes

Às vezes

Este meu Deus misturava-se com as crianças que brincavam nos musseques

Construía danças enquanto o vento

Desenhava sorrisos junto ao capim

 

Este círculo de luz com olhos verdes

O meu Deus

O Deus todo-poderoso

Criador das palavras

Do desejo

Do sexo das palavras

Do beijo

Este pequeno-grande círculo de luz

Com verdes

Verdes olhos das marés de Inverno

 

Cresci

Rezava-lhe

Ajoelhava-me junto ao mar

Erguia-lhe as mãos…

E ficava… ali… pasmado como um pedacinho de medo

Sempre à espera

Esperando

Que um paquete me resgatasse daquele Inferno

 

E depois de eu morrer

O comandante do paquete

E o Deus todo-poderoso

Criador do silêncio

Da poesia

Da paixão

Um círculo de luz

Com olhos

Verdes

Meu amor…

Verdes olhos

 

À noite

Sentava-me na cama

Desenhava paquetes na fronha da almofada

Uma espécie de miséria abraçada à vergonha

Quando as estrelas em finos traços de tesão

Subiam às mangueiras do meu quintal

E eu sabia

Quase sempre…

Que o avô Domingos regressava da cidade

E na mão

Trazia o cordel

Com que puxava os machimbombos

Por uma Luanda…

Em pequenos vómitos

 

Meu Deus

Meu grande Deus

Círculo de luz com olhos verdes

De verdes olhos

Entre momentos de dor

E caixas de solidão

Um Deus hoje

Hoje arrogante

Um Deus que se está a cagar para mim

E para as minhas palavras

Um Deus…

Um círculo

De luz

E de verdes olhos

 

E não me digam que este Deus

Meu Deus…

E não me digam que este circulo de luz com olhos verdes…

É Deus…

Porque este círculo de luz com olhos verdes

Este meu Deus…

É apenas mais um impostor que poisou dentro de mim

Como todas as pedras

Como todos os rios

Como todos os mares;

Um círculo de luz com olhos verdes.

 

 

 

Francisco

06/04/2023

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