16.06.22
Sabíamos que das árvores sonâmbulas
Acordavam os gritos faminto da fome,
Empenhando a bandeira sem nome
Que todas as tardes, dormia junto ao rio.
Sabíamos que das tuas palavras
Se erguiam os corações de prata,
Pedaços de lata
E pequenas andorinhas da madrugada,
Enquanto lá fora, sem percebermos
Porque morriam os poemas amanhecer,
Havia sobre a mesa uma pequeníssima folha onde escrever,
Havia o grito da noite,
Sabíamos que das árvores sonâmbulas,
Algumas delas, envenenadas pelo silêncio da alvorada,
Descia das mangueiras uma manga cansada,
Uma manga enraivecida,
Porque dentro de nós,
Adivinhava-se a tempestade do feitiço, primitiva
Equação em desejo. Porque dentro de nós existia o sono
Travestido de tédio.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 16/06/2022