25.11.19
Roubaram-me o sono e os sonhos.
Roubaram-me a noite,
E todos os veleiros da marina.
Roubaram-me todas as palavras que tinha,
E não tinha,
E agora sinto a falta delas.
Roubaram-me os livros, a saudade, e a madrugada.
Hoje, nada tenho.
Roubaram-me a Calçada,
O rio,
E todos os Cacilheiros em viagem.
Roubaram-me as flores, as árvores e o meu próprio jardim…
Também ele, saqueado pelos piratas vestidos de negro.
Trouxeram-me a morte,
Adormecida em papel vegetal,
Num Sábado de Setembro,
Roubaram-me,
E se bem me lembro,
Ontem,
Nada me tinham roubado.
Roubaram-me as lágrimas, e todo o sofrimento.
Roubaram-me o alimento,
Das palavras gastas,
Entre parêntesis e pontos de interrogação.
Roubaram-me tudo.
Tudo.
Que hoje, sentido a falta da presença das palavras do sonho,
Não estou triste;
Mas roubaram-me os pássaros da minha cidade.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
25/11/2019