19.02.22
Ausento-me.
Enquanto o sono se despede de mim,
Enquanto esta fogueira me consome,
Enquanto o dia se derrete,
Enquanto a lua se deita,
Enquanto o medo me absorve.
Ausento-me.
Enquanto o silêncio habita neste corpo,
Enquanto estes ossos não se transformam em pó,
Ausento-me.
Enquanto o mar não entra pela janela,
Enquanto a morte não me vem buscar.
Ausento-me.
Enquanto ainda tenho beijos,
Enquanto ainda existem abraços,
Enquanto este relógio não pára de caminhar…
Ausento-te.
Enquanto este poema não morre.
Ausento-me.
Enquanto esta cidade não dorme,
Enquanto este rio não deixa de correr para o mar.
Ausento-me.
Ausento-me,
Enquanto escrevo e a tua mão não deixar de me tocar.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 19/02/2022