23.09.21
Vivia no púbis desejado
Do silêncio amanhecer,
Cresceu em mim e, partiu
Da vida que sempre quis ter.
Certo dia, recebeu um telegrama envergonhado,
Não trazia remetente,
E assim,
O eterno enforcado,
Desconhecia
Que o seu amante
Pretendia,
Um dia,
Lhe escrever.
Como alguém dizia;
- Cuidado, eterno enforcado,
Viver no púbis desejado,
Não é a mesma coisa
Que pertencer ao beijo amado.
E o pobre do eterno enforcado,
Cioso da vergonha alheia,
Sentou-se numa pedra de espuma
Pensando que ao longe, na aldeia,
Habitavam as coxas moribundas
Das janelas em cio;
Que vergonha, eterno enforcado,
Que vergonha!
Púbis e coxas há muitas na saliva do prazer,
Palavras de merda, como as minhas, acordam ao entardecer,
E sabendo que o vagabundo
Do eterno enforcado,
Viajou,
Correu mundo…
E não passa de um triste amado.
Deixou-se penhorar
Pelo prazer
Num dia de Verão,
Sentado, não sabendo ler,
Percebeu que as árvores em flor,
São coxas,
São púbis,
São canção
De embalar,
São versos de amor,
São sílabas de foder.
Dois mais dois
São quatro braços abraçados,
Duas pernas,
Alguns enforcados,
E vinte e cinco sombras a voar;
Sabes, eterno enforcado?
A vagina é uma fotografia para o mar,
É a raiz quadrada do prazer,
É cateto amanhecer,
É hipotenusa maldisposta,
E mais dois são seis,
Seis versos de embalar…
Seis versos sem resposta.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 23/09/2021