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francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


18.10.22

Não tenho castelo,

Não tenho jardim no meu castelo,

Não tenho a lua,

Não tenho aquele rio que partiu,

Não tenho janelas,

 

Portão…

Não tenho árvores no jardim do meu castelo,

Não tenho o mar,

Maré nas tuas coxas,

Não tenho os seios do teu castelo,

 

Não tenho os lábios da manhã,

Não tenho fortuna,

Não tenho o silêncio nocturno da solidão…

Não tenho castelo,

Mas tenho a tua mão,

 

Não tenho os pássaros,

Não tenho as nuvens,

Não tenho castelo,

Não tenho a chuva,

Nem tenho o vento,

 

Não tenho a madrugada.

Não tenho a luz,

Não tenho palavras,

Não tenho castelo…

Mas tenho a alvorada.

 

 

 

Alijó, 18/10/2022

Francisco Luís Fontinha


22.09.22

Todos os dias,

Estas tristes janelas se encerram,

E o sol…

Esconde-se nos arbustos do cansaço,

Todos os dias,

Há luar na minha noite,

Todas as noites,

Há palavras nos meus tristes lábios,

Todas as horas,

Todos os dias,

A solidão dos dias,

A solidão das horas,

Quando um velho relógio

Se esconde na alvorada,

Um transeunte invade o jardim do sonho…

E as minhas acácias morreram de saudade,

Todos os dias,

Dias em pequenos voos sobre o mar,

Todas as horas,

Todas as palavras,

Todos os dias em delírio…

Nas nuvens encarnadas,

Depois,

O sangue laminado

Jorra na planície do medo,

As janelas encerradas,

A padaria fora de serviço,

O café amargo…

Entre dias,

Depois dos dias,

Nas horas sem dias…

E pergunto-me

Quando acordam os cisnes do teu olhar,

Sabendo que todas as janelas,

Todas as horas,

Todos os dias,

Minutos,

Segundos de nada…

Deste calendário envenenado,

ENCERRADO.

 

Alijó, 22/09/2022

Francisco Luís Fontinha


10.01.22

Somos instantes

Palavras esquecidas na lápide da vida,

Somos poema,

Somos canção,

Somos instantes

Até no acto da despedida,

 

Somos destino,

Somos equação,

Somos palavras esquecidas

No uivo do foguetão,

Somos instantes,

Somos palavras perdidas.

 

Somos instantes,

Maré em revolução,

Somos palavra,

Somos equação,

Somos instantes,

Instantes da nação.

 

Somos verso.

Somos instantes na equação da vida.

Somos escada, alvorada,

Somos instantes

Na boca da madrugada;

Somos instantes do pequeno nada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 10/01/2022


07.11.21

Abraço-te, sentindo que da lentidão das coisas,

Acordam na tua mão as rosas floridas,

Abraço-te, sabendo que na lentidão das coisas,

Vivem todas as palavras sofridas.

Abraço-te, sabendo que nos braços da lentidão das coisas,

Escrevem-se livros de poesia e, desenhos de viver,

Escrevem-se também, as palavras que ela sentia,

Nas palavras de morrer.

E de dizer.

Abraço-te, abraçando-me à lentidão das coisas,

Um perfume envenenado,

Talvez, como das outras vezes,

Um corpo ensanguentado,

Ou uma donzela em translação,

Talvez um corpo queimado,

Talvez, talvez uma enorme ferida no coração;

E, mesmo assim, houve uma vez,

Onde senti a neblina cansada da escuridão.

Abraço-te, quando na lentidão das coisas,

Regressa a noite bem vestida,

Se senta na esplanada da vida,

Grita,

Grita para a alvorada,

E ouve da enxada maldita,

O silêncio das abelhas em gargalhada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 07/11/2021


08.05.20

És as asas dos meus sonhos.

Os lábios pincelados da minha janela,

És a canção do meu sorriso,

Poema sem jeito, barco, barcaça, caravela,

És o silêncio da minha cidade,

Palavras semeadas na minha aldeia,

És o Sol sem juízo,

Nas noites de Primavera.

És a voz trémula dos sinos em descanso,

O mar calcetado pela esperança,

És o Rossio em demanda,

Passeando na calçada,

És gaivota,

Madrugada.

És a fala amestrada

Das noites choradas,

Beijo na despedida,

És o corpo ausente

Das varandas envenenadas

Pelas abelhas do nada.

Pelas abelhas da Ira.

És o oiro,

Verso em construção,

És o mar salgada da insónia,

Quando absorve o teu corpo na alvorada.

És rochedo,

Medo,

Palavra brava…

És a janela,

A porta,

Da cidade sem nome,

Que privilegia as flores do cansaço.

És rio,

Riacho,

És o calendário da insónia,

Nome,

Morada,

Das ruas em ebulição.

És o vento em aflição,

Bandeja de esplanada,

És tudo.

Não és nada.

És beijo e desejada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 08/05/2020

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