Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


08.12.22

Tatuar o teu corpo

Com a minha boca

Nas tuas costas

No canto superior direito

Tatuava o sol

 

Ao centro

Podia tatuar o mar

E os barcos da minha infância

 

Ao fundo

No canto inferior esquerdo

Junto à nádega

Tatuava a lua

E o luar

 

Nas tuas coxas

Tatuava a noite

E todas as estrelas que tem a noite (tantas estrelas tem a noite, meu amor)

 

Depois

Escrever no teu corpo

 

Nos teus lábios

Escrevo desejo

Beijo

Nos teus olhos

Quando estão poisados na maré

Escrevo paixão

No teu peito

Posso escreve o silêncio

Quando dorme nos braços do mais belo pôr-do-sol

Depois

Pego na tua mão

Cerro os olhos

E escrevo; amo-te.

 

 

 

 

 

Alijó, 08/12/2022

Francisco Luís Fontinha


06.10.22

Desenho o beijo

Na sombra fria e escura

Do muro do desejo,

Pergunto-me,

Quanto pesará um beijo…

E ninguém sabe,

Ninguém consegue calcular o peso de um beijo,

Eu não sei,

 

Desconhecendo a massa de um beijo…

Será impossível de calcular o seu peso,

Portanto,

Um beijo poderá pesar muito…

Ou não pesar nada…

Ou nem sequer existir,

Um beijo desenhado,

Quase sempre, é um beijo desejado,

 

Mas haverá beijos que não são desejados?

E desenhados?

Conseguem desenhar um beijo?

Como se escreve um beijo?

E se a sombra fria e escura

Do muro do desejo…

Não existir?

Não sei…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 06/10/2022


05.10.22

Percebo que a noite é escura

Quando cada milímetro quadrado da tua pele

Se despede das minhas mãos,

Percebo que a noite é escura

Quando a minha voz se perde na velocidade da luz

E se abraçam,

E se beijam,

O som… e a luz,

 

Percebo que a noite é escura

Quando dos teus lábios fogem os iões da saudade,

Quando um beijo se ergue na margem esquerda das tuas coxas…

Quando um pedaço de noite é apenas um pedaço de noite,

Percebo que a noite é escura

Quando semeio as minhas palavras sobre o teu peito,

E nele, desenho as imagens do desejo,

 

Percebo que a noite é escura

Quando este poema poisar sobre o teu cabelo,

Quando a cidade dorme,

Percebo que a noite é escura

Quando as janelas do teu olhar se abrem…

E as equações do sono,

São pequeninos silêncios

Na lua… também ela, tal como a noite, escura.

 

 

Alijó, 05/10/2022

Francisco Luís Fontinha


05.07.22

Não sabíamos que a tempestade regressava da tua mão. Não sabíamos que em cada sorriso, o teu, habitava uma pequena nuvem de desejo. Não sabíamos que as pedras semeadas na superfície do teu corpo, as palavras entre parenteses, depois de lidas, voavam em direcção às cansadas mãos do criador e, mesmo assim, depois da chuva, levantavam-se do chão, em lágrimas, os silêncios nocturnos das sanzalas adormecidas.

Tínhamos nas palavras escritas, dentro de um pequeno cubo em vidro, as flores amarguradas das distantes marés do paraíso.

Desenhava o teu corpo sempre que a chuva descia montanha abaixo, depois, limitava-me a escrever no chão húmido da alvorada a palavra amo-te,

Sabendo que em cada muro da cidade,

Um grito em revolta.

Uma enxada vergada pelo cansaço, uma flor em flecha contra o poema que nascia nas amoras em flor, ambas envergonhadas, ambas desgovernadas pelo silêncio da tarde, desciam as escadas da solidão, depois de partir a noite, acreditando que os poemas nasciam durante as tempestades nocturnas sem luar.

E não sabíamos que a tempestade regressava da tua mão. Não sabíamos que em cada sorriso, o teu, habitava uma pequena nuvem de desejo que pé-ante-pé dançava nas escadarias que apenas a solidão conservava para mais tarde fotografar; e tínhamos nas pedras, nos anzóis da solidão, do pequeno parágrafo desalinhado, todas as tristes madrugadas entre o desejo que abraçava o teu corpo e o beijo; ai o beijo, menina!

 

Descias as madrugadas em flor,

Descias as distantes cinzentas manhãs de inferno,

Descias da boca, quando o beijo mergulhava

Na solidão nocturna da dor;

Descias às noites de Inverno

Que no beijo dançava.

 

Ai o beijo, menina!

E tínhamos na algibeira o silêncio entre gemidos e lágrimas, e tínhamos nos poemas a boca entre o beijo e a alvorada, e tínhamos na mão, ou tínhamos no silêncio, as tempestades do infinito.

E tínhamos o beijo embrulhado nas nossas bocas, quando envergonhadas, levitavam como um carrossel em direcção ao olhar de uma criança.

 

 

Alijó, 5/07/2022

Francisco Luís Fontinha


16.06.22

Sabíamos que das árvores sonâmbulas

Acordavam os gritos faminto da fome,

Empenhando a bandeira sem nome

Que todas as tardes, dormia junto ao rio.

 

Sabíamos que das tuas palavras

Se erguiam os corações de prata,

Pedaços de lata

E pequenas andorinhas da madrugada,

 

Enquanto lá fora, sem percebermos

Porque morriam os poemas amanhecer,

Havia sobre a mesa uma pequeníssima folha onde escrever,

Havia o grito da noite,

 

Sabíamos que das árvores sonâmbulas,

Algumas delas, envenenadas pelo silêncio da alvorada,

Descia das mangueiras uma manga cansada,

Uma manga enraivecida,

 

Porque dentro de nós,

Adivinhava-se a tempestade do feitiço, primitiva

Equação em desejo. Porque dentro de nós existia o sono

Travestido de tédio.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 16/06/2022

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub