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Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.

Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.


16.04.23

São as cerejas

Meu amor…

São as cerejas os olhos da Primavera,

São as cerejas meu amor,

São de cereja os teus olhos de mar…

Dos teus olhos em Primavera.

 

São em cereja

No encarnado desejo

São em cereja meu amor

O teu beijo

São de cereja meu amor…

Os teus lábios em cereja.

 

São as cerejas

Meu amor…

São as cerejas os olhos da Primavera,

Dos teus lábios em mel,

Dos teus lábios em cereja…

Meu amor de cereja.

 

 

Francisco

16/04/2023


09.11.20

As cerejas serão sempre cerejas na tua boca.

Os lábios das cerejas, na tua boca, teus lábios, serão sempre o nascer do sol.

Das palavras, às cerejas, há sempre um poema envenenado,

Uma canção de espuma,

Na mão sardenta de um condenado.

Há sempre um drogado,

Entre poemas e textos de escrever,

As cerejas, quando doces, são frutos de querer,

São melodias do narciso,

Voando em direcção ao mar.

Depois, no final da tarde, todas as palavras se suicidam,

Dormem na boca das cerejas,

Depois, o beijo, das cerejas,

Parecendo o acordar dos pássaros embainhados pelo sono da Primavera.

Tenho em mim, na minha mão, as cerejas de beijar,

Tenho na minha boca as cerejas do desejo,

Quando no oceano todas as cerejas, entre palavras, se agitam como moças parvas,

Cidades entre esquinas,

Luzes de caminhar de encontro às esplanadas de brincar e,

As outras cerejas,

As cerejas de acariciar,

Pintam na clarabóia da insónia,

As planícies de amar.

Amam-se as cerejas.

Brotam da terra as cerejas mortas,

Caducas,

Velhas,

Onde alguém desenha hortas,

Árvores em papel… e,

Janelas abertas.

As cerejas, meu amor,

São o silêncio da bruma,

São barcaças,

São pingos de espuma;

Um telegrama,

Que não me grama,

Coça os tomates,

Puxa de um cigarro invisível,

Lê na tua mão, meu amor,

Que todos os restaurantes faliram,

Morreram de sono,

Pumba.

Fim.

Incrível,

As aldeias de xisto,

Cansadas,

Cansadas de tudo e de nada,

Visto.

Está visto.

Porta cerrada,

Número de polícia trocado,

O velho,

O farrapo,

O vagabundo.

Atravesso a calçada,

Limito-me a observar,

Os pombos que cagam,

Os homens que cagam nos pombos e,

Meu amor, as cerejas que esqueci na tua boca.

Alimento-me.

Sou um sem-abrigo com ordem de recolher;

Mas nunca, nunca serei um homem de obedecer.

Ponto.

Vivam as cerejas,

Porque de tão belas,

São doces,

São mulheres,

São donzelas.

E as abelhas?

Que se fodam as abelhas.

E as cerejas de comer.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 09/11/2020


18.11.13

foto de: A&M ART and Photos

 

não oiço a tua voz desde que terminaram as manhãs de orvalho

abríamos a janela do sonho

e víamos as acrobacias tontas dos pássaros embriagados pelas nuvens de cerâmica encarnada

havia na nossa mão pedaços de desejo

beijos

e réstias dentadas no teu pescoço deliciosamente belo e doce

como as cerejas

não oiço a tua voz fotocopiada desde que percebi ser um ultraleve magoado

uma jangada envidraçada

uma porta mal fechada

não te oiço desde que tínhamos pequenos sons melódicos em vasos de cristal

e brincávamos como crianças à volta de uma lareira esfomeada

 

dizíamos que o Sol era nosso depois de fazermos amor debaixo do candeeiro abandonado

beijos

como as cerejas

os vidros

e as paredes

caquécticas

e às vezes

lá tínhamos de correr em direcção ao mar

 

versos ancorados

quando no cais de desembarque o murcho sexo do marinheiro escapulia-se pelas frestas da madrugada doentia

em cio

corríamos como loucos vestidos de versos

e palavras sobrepostas como posições de embarque

fodíamos sem saber que o fazíamos

em cio

versos camuflados depois das tempestades de areia

tombarem sobre o teu corpo húmido de alvorada

e beijos

e caquécticas amêndoas brilhavam no teu púbis de Segunda-feira à noite...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 18 de Novembro de 2013


01.05.13

foto: A&M ART and Photos

 

As cerejas de Deus que nos teus lábios comem as minhas palavras

que das tuas mãos Deus colocou sobre o meu rosto de pergaminho

as sílabas transparentes dos degraus impossíveis de transpor

pelos teus sonhos em silêncios azuis

como as pétalas da rosa esquecida no muro em frente à tua alegre casa,

 

Tínhamos um telhado

onde nos escondíamos nas tardes de solidão

e depois de alicerçares nos teus braços os cadernos de nós

ficávamos assim livres a olhar as nuvens

e a inventar histórias que um jornal de província nos comprava,

 

Tínhamos dinheiro para o pão

e para comprarmos novos cadernos

tinta

e às vezes

sobrava-nos algumas moedas para fingirmos que fumávamos flores enroladas em marés de Inverno,

 

Víamos os barcos a morrer como gente desesperada

cansada de trabalhar

cansada... de viver

as cerejas de Deus... comem as minhas palavras

e deixam os caroços sobre a terra semeada,

 

Víamos os barcos em círculo na janela da solidão

barcos que escreviam histórias

nos corpos amarrotados como o papel higiénico da pastelaria

entre migalhas de torradas e o cheiro a chá de hortelã...

vivíamos felizes sem percebermos que éramos miseráveis.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

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