Às vezes éramos apedrejados pelo silêncio
Às vezes éramos escravos
Do silêncio
Às vezes gritávamos
Às vezes chorávamos
Às vezes tínhamos em nós toda a alegria
Às vezes sentíamo-nos os filhos do poema
Da poesia
Que às vezes atrapalhava o dia
Às vezes marchávamos em direcção ao mar
Às vezes fazíamos de mar
Quando o mar
Às vezes
Se disfarçava de um outro mar
Às vezes ouvíamos o apito do comboio
Na algibeira de transeuntes aflitos
Com fome
Que às vezes sentíamos enquanto o sono não regressava
Das vezes que se despedia
E nós sem saber o significado de manhã
Quando às vezes
Se perde um sorriso no meu olhar
E lá se vai a manhã
De apenas algumas vezes
Às vezes fugíamos
E às vezes pegávamos nas espingardas da insónia
Disparávamos incenso contra o sol
E sal contra a lua
E de todas as vezes
Regressavam sempre a nós as outras vezes
Dos dias de às vezes
Meio-escondidos na rua
Meia-lua dos teus olhos
Que às vezes ofusca
Que às vezes me chama
E lamenta
Esta espingarda de corda.
23/09/2023