28.07.22
E não sabíamos que tinhas nos olhos
Uma lágrima de luz
Quando o teu cabelo voava sobre o mar
Depois de morrerem todas as gaivotas
E não sabíamos que nas tuas mãos
Habitavam silêncios de dor
Travestidos de luar.
E não sabíamos quando vinha da montanha
A solidão empunhando uma enxada
Depois sentava-se ao teu lado
Até que as flores do teu peito
Murchavam.
E não sabíamos porque os espelhos
Da caverna onde te escondias
Dormiam durante o dia;
Porque da noite
Erguiam-se as sombras envenenadas
Pela solidão absorvida nas tuas palavras
Gemias.
Gritavas silêncios de dor
Como gritam as crianças quando acordam
Nos seios de sua mãe. E não sabíamos
Que dentro de ti, à meia-noite, um rio de luz
Descia o teu corpo…
E não sabíamos que hoje
Vives neste meu corpo despedaçado
Enquanto uma pedra de ninguém
Flutua sobre a cidade;
Porque nunca soubemos
O que é a despedida.
Alijó, 28/07/2022
Francisco Luís Fontinha