31.10.21
Descia a calçada de cigarro na mão.
Empunhava a espingarda
Como se ela fosse uma canção,
Ou apenas o nascer da alvorada.
Sentava-se no chão. Desenhava na algibeira
Lágrimas com a enxada da vida adormecida,
Subia aos montes e às montanhas e à ribeira…
A ribeira da vida.
Sentado no chão.
Cruzava as pernas em direcção ao mar,
Mas o mar era apenas uma canção,
Uma canção de embalar.
Descia a calçada de cigarro na mão.
Sentia na garganta a lampejou-lha dos pássaros envenenados,
Alguém lhe gritava; Alto. No ar a sua mão.
A sua mão dos dias envergonhados.
Descia.
A calçada em demanda.
E, escrevia
Com a mão que não anda.
Descia a calçada em construção.
Puxava de um cigarro que se alimentava do desejo,
Descia a calçada de cigarro na mão,
E com a mão se constrói o beijo…
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 31/10/2021