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Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.

Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.


28.01.15

A1_039.jpg

 

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Este caixote sem janelas

que habita o meu cérebro cinzento

as palavras belas

que sinto

quando acorda o amanhecer

e não encontro o teu corpo na minha cama,

 

As imagens do silêncio

reescritas na tua mão de porcelana

regressar é impossível

viver...

sonhar

sem saber que amanhã não existe mar,

 

Maré dos enganos

sílabas assassinadas pela caneta negra...

um desenho

(uma porcaria de desenho...)

suspenso na forca da idade

como serpentes em pedacinhos descendo a montanha,

 

As sombreadas verrugas do Adeus

quando o caixote arde na cinza madrugada

o meu cérebro morre

e leva as minhas palavras...

o meu cérebro morre...

e leva o meu corpo.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2015


04.07.14

Sabias dizer-me a cor dos teus olhos,

nunca esqueceste o cansaço dos meus cabelos,

sabias... e deixaste de saber...

o que escrevo,

o que quero escrever,

sabias como eram as madrugadas de Agosto num jardim clandestino,

tão pequenino,

tão...

e deixaste de perceber os silêncios do amanhecer,

sabias dizer-me a cor dos teus olhos,

sabias,

sabias e tinhas medo da minha voz trémula,

 

Desfocada no espelho de um quarto escuro...

sabias,

e não me querias dizer...

como eram belas as gaivotas do Tejo,

 

De como eram belas as ruas desertas de Belém,

sabias a cor dos teus olhos...

… e não sabias... e não querias saber...

de como eram belos os barcos que vociferavam palavras nas noites frias de Inverno,

que inferno,

saberes...

e não me quereres dizer,

que... que havia uma janela pintada de veludo,

que... que havia uma clarabóia sobre o esqueleto do Oceano,

tu sabias,

tu sempre soubeste...

que eu, que eu era construído em ferro fundido dúctil.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 4 de Julho de 2014


11.01.14

foto de: A&M ART and Photos

 

Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho, o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e outra...

Ao deitar?

E a outra e mais outra, a inspiração, o orvalho, o soalho e o espelho, a cama em lágrimas e o sofrimento impregnado nas lâminas transversais do gesso embriagado, quatro árvores em decadência, um corpo suspenso na madrugada, a chuva, as nuvens apaixonadas pelo triste cacimbo... e nada mais, e apenas um menino

Ao deitar?

Quatro drageias, três árvores em desejo misturado em cinco quintos de sonho, uma

Merda?

Ao deitar?

As fotografias em constante transbordo, a locomotiva da paixão descarrilou, ravina abaixo, ravina acima, a mini-saia encarnada e as meias com bolinhas brancas, no joelho a nódoa negra, a pedra em granito que caiu do silêncio camafeu em robe e velho pijama, o corredor, a espera, a derradeira espera, uma janela, cigarros na mão, ao longe, ao longe o metro de superfície parecendo uma lesma sobre os muros em xisto do Douro Vinhateiro, socalcos de pano, lanternas na cabeça, e a burra... tropeçando, e a burra...

Ao deitar?

Desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro, cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado, braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando

O que será de nós?

E ao deitar,

Não sei se a imaginação vive dentro de mim ou se eu, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, cruzo os braços, descruzo e enrolo-me à dor dos presentes, fumo, não fumo, abro a janela, não abro a janela... apetece-me saltar, aterrar do outro lado da rua, cair sobre os carris do metro, deitar-me de barriga para o céu... e gritar, e... e chorar..., e

Ao deitar tomo as drageias da saudade, meio copo com água, um copo com uísque, dissolvidas todas como sementes junto à eira em Carvalhais, irrita-me

Ao deitar?

O metro de superfície correndo como um louco, e dizem que o louco sou eu, cruzo, descruzo, invento desenhos nas paredes incolores da tristeza, oiço-os em conversas desalinhadas, finjo não os ouvir, eu não os quero ouvir,

Ao deitar? E ao deitar a sonolenta voz das palavras, a neve sobre os telhados que a dor deixa nos malditos ossos, frágil – cuidado, cuidado com o cão, cuidado com as carruagens do metro de superfície engasgadas, tosse e rouquidão, não sei se fume, não fume ou fume, comprar cigarros, saltar a janela, saltar o gradeamento, saltar os carris... e eu... e eu imaginando cigarros nas paredes coloridas da cela, a porta abre-se...

E?

O que será de nós?

E ao deitar, o perfume da Cinderela passeando junto aos carris...

(desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro, cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado, braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando

o que será de nós?)

Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho, o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e outra...

Ao deitar?

Ao deitar as drageias, os silabados imaginados por um louco que depois da felicidade deseja voar como gaivotas sobre os petroleiros vampiros que habitam os rios dos velhos sonhos de infância,

Não sei, não... sei... não sei se ele conseguirá...!

Talvez,

Ao deitar?

Talvez... talvez ao deitar.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 11 de Janeiro de 2014


17.12.13

foto de: A&M ART and Photos

 

Aqui sei que me esperas como janelas envenenadas

aqui sei que me amas

e desejas

sempre que o cortinado tomba e dele se derrama o líquido chamado de solidão...

aqui tenho-te dentro de mim

aqui sou eu

aqui... aqui somos livres de amar

desejar

possuir esqueletos com asas em papel

e és gira com vestidos de napa

derretida nos límpidos tecidos do teu insignificante corpo encurvado

ao leme o velho monstro de quatro cabeças...

 

Confessas-me que tens velas de seda

… e desejas tanto o vento como a sombra da minha mão...

vaidosa

pareces uma pomba com sandálias de porcelana

Princesa

invejosa...

 

Aqui confundo-me com as árvores envelhecidas

onde poisam pássaros recheados de reumatismo

e bicos de papagaio...

aqui sou feliz

aqui

aqui vivo percebendo que a vida é uma roldana

uma velha roda dentada

gasta

sem dentes

sem nada

aqui sei que me esperas como janelas envenenadas

e quando desce a lua sobre os teus seios... apenas oiço o suspiro das calçadas

 

Aqui já fui o Príncipe das Avenidas gastas

o velho escorpião dos bares nocturnos do prazer

aqui fui o velho marinheiro

o cachimbo de água do confuso poeta escritor aldrabão e impostor...

aqui vivo

e aqui morrerei como uma serpente enrolada no pescoço da saudade

 

Aqui

aqui... serei o teu cadáver depois de travestido em fúnebre jarra parda com flores plastificadas

cansadas e tristes e aqui...

aqui... perdi-me de ti enquanto voavam as gaivotas dos círios cabelos castanhos da montanha.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 17 de Dezembro de 2013


13.12.13

foto de: A&M ART and Photos

 

o espaço exíguo do meu sonho perde-se na neblina de prata

sei que uma língua de fogo jaz nas profundezas da tristeza

que de um bairro em chapa

acordou a madrugada cinzenta em pétalas de ciume sem beleza

chata

a miúda da perfumaria a tentar impingir-me livros pornográficos

cinzeiros

lanternas mágicas com anéis de poesia...

a miúda diz amar-me sem saber o que é o amor

como eu desconhecia as lágrimas dos bravios pinheiros

das tardes fotográficas

que o recreio da escola inventava entre serpentinas e muros de fantasia

 

alegria

sorria...

dizem-me que estou a ser filmado

 

porcaria

com a autorização de quem pergunto eu ao primeiro vagabundo das amendoeiras em flor

alegria

sorria...

lanço-me do telhado e debruço-me sobre as veias mágoas dos cristais envenenados

uma flor em papel é como um jardim desenhado pela mão de um pintor

aberrantes lábios que seguram as florestas da montanha na ponta do lápis de cor

sinto-me exíguo dentro do espaço nas neblinas de prata

és tu tão chata

sou eu... eu um rochedo recheado de pontos pigmentados nas manhãs dos quadriculados

uma rosa à janela do desassossego milagre que a liberdade adensa depois das tempestades...

e o espaço exíguo... sou eu... o homem desiludido com os barcos de veludo em negras tardes

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 13 de Dezembro de 2013

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