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Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.

Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.


08.04.23

Poucos recordam o poeta

Após a sua morte.

Poucos saberão que o poeta morreu

No dia em que ele não foi comprar cigarros

Ou na noite que ele não apareceu

Perante Deus

Para beber o seu último shot de uísque

E fumar o seu último cigarro.

 

Muitos poucos não saberão

Que o poeta está morto

Nasceu morto

E morto irá morrer

Nas mãos da poesia

Poesia morta

Abstracta

De luzes endiabradas nos lábios da madrugada

E se o poeta sofre

Não deve sofrer

Porque um poeta morto

Morto não sofre

E morto irá morrer.

 

Não gosto de mortos.

Dos que partiram

E daqueles que irão partir

E daqueles que nunca chegaram a partir

Antes de fugir.

O poeta morre no dia em que deixar de ir comprar cigarros

E na noite

Perante Deus

Não beber o seu último shot de desejo.

 

O poeta não sofre.

Os mortos não sofrem.

Quem sofre são as palavras

São as flores

São as nuvens e os pássaros

E o mar

E os barcos que dormem no mar;

Todos eles sofrem…

O poeta

O poeta não sabe sofrer.

 

O poeta apenas sabe escrever

O poeta morre enquanto escreve

Enquanto desenha na alvorada

Palavras

Palavras de morrer

Que o poeta morto

Não se cansa de escrever

Não se cansa de sofrer…

Mas o poeta não sofre

Porque o poeta está morto

E os mortos

Todos os mortos

Não sofrem

Não sabem sofrer.

 

O poeta se cansa

Das palavras

Dos dias entre palavras

Dos poemas em banho-maria

Do dia

Toda a poesia

A que morreu

E a que vai morrer

Nas mãos de um homem

De um louco homem

De um poeta louco

Poeta homem

Que sofre e está morto

Dentro de um cubo de vidro

Quando nasce o dia

Quando morre o dia

E o poeta

Louco poeta

Da louca poesia…

Nada.

Ninguém perceberá que o poeta morreu às mãos da poesia.

 

 

Francisco

08/04/2023


19.12.20

Um louco será sempre um louco.

Cerram-se todas as janelas da poesia,

Morrem todos os pássaros da minha aldeia,

De tanto, o pouco,

Das flores donzelas que eu queria…

Antes do horário da ceia.

Caem sobre ti as loucas fotografias,

Escrevem-se as palavras sobre a ria,

Depois, vem a fantasia,

E, o amor e, a alegria.

Escrevo-te, meu amor,

Todas as tardes em beleza,

Sinto, sento-me, nas heteras mãos de Deus,

Sabes? O palhaço está doente,

A flor,

Tua doce boca, só, na clareira,

E, todas as sanzalas, e, todos os musseques,

Doentes

Como Deus nos apetece.

Esqueço,

Durmo nesta cama azada,

Entre um cobertor de pano

E, uma nova namorada.

Entre palavras parvas

Que assombram as minhas mãos;

Sabes, meu amor!

A vizinha está encharcada de veneno,

Trouxe a morte,

A vaidade…

E, escreveu seu nome,

Nas amplas matrizes de poder,

Olho-a,

Vejo-a,

E, loucamente te beijo,

E, loucamente,

Eu, este louco que te quer.

Um louco será sempre um louco,

No destino de viver.

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó/19-12-2020


24.01.20

Jazem na minha mão as palavras da saudade.

O mar alicerça-se no quadriculado caderno da madrugada,

Sílabas loucas,

Corações abandonados, numa esplanada de areia,

Esqueletos vadios,

Cansados de viver,

A luz traz as amoreiras em flor,

Mártir silêncio dos poemas adormecidos,

A paixão dos mortos,

Quando um barco se perde no Oceano,

O marinheiro afoga-se no poema,

Lê em voz alta, para todos ouvirem, os mandamentos das gaivotas,

E, sem regressar, procura o sexo na escuridão.

Salta da maré um pequeno veleiro adormecido,

De lágrimas nos olhos, grita pelas almas que partiram,

Ninguém o ouve; a luz.

Todas as manhãs, antes de acordar, o marinheiro chora pelos que partiram,

Ao longe, uma bandeira em demanda,

Sofre, grita,

Mas… não adianta.

Pelos vistos, os mortos não regressam nunca ao local de partida.

O corpo escurece,

Derrete nas pálidas madrugadas, quando do silêncio, uma criança brinca no convés do navio,

Todos os barcos, loucos,

Internados em Psiquiatria,

Enfermaria azul, cama vinte e cinco,

Drageias para todos os navios,

Não dormem,

Mas… sofrem.

Sofrem de quê?

Do silêncio,

Da solidão que provoca o silêncio.

O amor nasce entre os cortinados do camarote,

Na enfermaria, um dos barcos internado, grita pelo enfermeiro;

SOCORRO!

E, ninguém. Ninguém o ouve.

Apenas o comandante está autorizado nas visitas, poucos minutos, servem para acariciar-lhe as âncoras da tristeza,

QUERO SAIR DAQUI.

Todos o queremos.

Uns, mais, outros, menos.

Mas os barcos são teimosos, e, firmemente, alegremente, fogem…

E, só a paixão dos mortos consegue sobreviver ao destino.

Sofre. Grita.

Zurra nas amêndoas em flor, descendo socalcos,

Subindo rochedos,

E outros demais silêncios.

A loucura pertence aos pássaros,

E, aos barcos.

Torna-se na viagem mais inclinada do Universo,

Quando todos sabemos, que o mar, os pássaros e, os barcos,

Morrem.

Morrem nas clandestinas sanzalas do silêncio.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

24/01/2020


09.08.19

Sabia que o teu corpo era porcelana madrugada.

Manuseio-o como se fosse uma sílaba engasgada no poema,

Com jeitinho,

Pinto-o, beijo-o,

Como se fosse uma pétala no jardim do silêncio;

Dois olhares cruzam-se na escuridão do desejo,

Um cigarro arde,

E recorda-se do beijo.

Oiço a tua voz silenciada na alvenaria,

Oiço os gemidos do luar suspensos nos cortinados da paixão,

Sou tão feliz, meu amor,

Tão feliz.

Não finjo,

Sinto-o dentro do peito,

Esta ressaca que me aprisiona aos teus braços,

Não finjo, meu amor,

Não finjo que somos donos do mar,

Não finjo que somos os únicos sobreviventes das tempestades da loucura…

E, no entanto,

Lá longe,

Um barco carregado de livros, aproxima-se,

E poiso nas tuas coxas.

São poemas, meu amor,

Poemas de amor.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

09/08/2019


08.08.19

Oiço os teus gemidos no cansaço da noite.

Amar-te não me chega,

Amar-te é crucificar o teu corpo nas rimas de um poema vadio,

Cansado do rio,

Antes de nascer o Sol.

Amar-te é construir uma cabana junto ao mar,

Plantar livros no quintal,

Desenhar na areia o silêncio da noite,

Esse mesmo,

Onde oiço os teus gemidos.

Não. Não estou louco.

Se o fosse não escrevia sabendo que oiço o mar nos teus lábios de amêndoa…

Contra os rochedos da insónia.

E eu sou capaz de caminhar até à montanha mais alta do meu corpo,

Vagueando nos teus braços de pérola adormecida,

Como o vento,

Levando com ele a cumplicidade de um beijo no esconderijo da noite,

Quando um transeunte tropeça nas palavras,

Que aqui,

Ali…

Vou semeando…

Para quando eu morrer,

Tu,

Acariciares entre parêntesis e ponto de interrogação.

Amanhã?

Logo à noite?

Somos apenas fotografia a preto-e-branco.

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

8/08/2019

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