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francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


22.05.23

Neste pedaço de vidro

Desenho o silêncio do meu rosto,

Escrevo as lágrimas do meu antigo rosto…

Neste pedaço de vidro,

Olho-o, olho-o incessantemente…

Até que este pedaço de vidro,

Despede-se de mim

E ausenta-se no centro do círculo da insónia.

 

Neste pedaço de vidro

Poiso as cores do meu sorriso,

Semeio o meu silenciado olhar…

Que desparece…

Neste pedaço de vidro.

 

Neste pedacinho de vidro

Escrevo os poemas à minha amada,

Desenho a chuva,

Da chuva que cobre o corpo da minha amada…

De desejo-azul…

A este pedaço de vidro

Vêm as estrelas de todo o Universo…

E um punhado de electrões,

Brincam neste pedaço de vidro.

 

 

 

 

Alijó, 22/05/2023

Francisco Luís Fontinha


20.05.23

Desce desse pedestal,

Abraça-te ao meu silêncio,

Cerra os olhos…

E voa no meu olhar.

 

Desce desse pedestal,

Abraça-te ao meu mar,

Do meu mar onde escondo as minhas palavras…

E os meus barcos de brincar.

 

Desce desse pedestal,

Flor em papel colorido,

Cerra os olhos…

Dos teus olhos que procuro todas as noites,

 

De todos os luares.

Desce desse pedestal,

E abraça-te ao meu silêncio…

Do meu silêncio… de amar.

 

 

 

Alijó, 20/05/2023

Francisco Luís Fontinha


04.05.23

Uma gaivota de sono

Poisa nos teus lábios,

E fico tão triste,

Tão triste… meu amor…

Porque não sei como afoguentá-la dos teus lábios

E tenho medo de que ela me roube o teu olhar,

 

Ai meu amor…

Como são tristes as janelas do teu silêncio,

Como são tristes,

Meu amor,

As palavras das minhas madrugadas,

Enquanto penso se essa maldita gaivota…

Te vai roubar esse lindo olhar,

 

Cartas que te escrevo

Nas suspensas manhãs de enxofre,

Enquanto nas tuas mãos ardem as flores do teu luar…

E essa maldita gaivota com asas de veludo

Que não se cansa de te rondar,

 

Qualquer dia,

Regressarão as tristes Primaveras,

De que nunca tive medo,

Medo não tenho,

Medo nunca o terei…

Mas preocupa-me essa gaivota de sono

Sem nacionalidade…

E filha da lua,

 

E dizem que o pai é a saudade.

Qualquer dia,

Um outro dia do meu dia,

Teremos dentro de nós as derramadas lágrimas da manhã…

Sem que regressem as rimas nocturnas do teu púbis,

 

E sendo assim,

Que faz essa gaivota,

Meu amor…

No silêncio dos teus lábios?

 

Uma gaivota de sono

Poisa nos teus lábios,

E fico tão triste,

Tão triste… meu amor…

É que nunca sei…

Se essa maldita gaivota te vai roubar o olhar,

Ou se essa maldita gaivota…

Apenas me quer chatear,

 

Olha, meu amor…

Tal como a madrugada,

Quando acorda,

Me lança ao cardume do silêncio,

E apressadamente,

Tenho de correr para o próximo apeadeiro do desejo,

 

E de comboios nada percebo,

Mas parece que não interessa nada perceber de comboios,

Não interessa nada perceber de aviões ou de barcos…

Tive muitos barcos, meu amor,

Muitos barcos em toda a minha vida…

E quase que sou capitão da marinha mercante e afins…

Estacionava-me nos teus braços…

E zás,

Lábios com lábios,

Boca com boca,

Cabelo com cabelo…

 

E quando lhe perguntaram qual é era a raiz quadrada de seiscentos e vinte e cinco…

Não sei, professor…

Nunca o soube,

Que tens uma gaivota de sono nos teus lábios…

 

E da rua da masturbação número vinte e cinco,

As flores da tia Joana em decomposição,

Todas elas mortas,

Todas,

Todas elas em profundo silêncio…

Enquanto rezávamos que a tarde nunca terminasse,

 

E como é triste, meu amor…

Como é triste a partida daqueles que amamos…

Um filho perde o pai,

Perde a mãe,

Perde o seu melhor amigo,

O amigo já tinha perdido o melhor amigo…

Um pai e uma mãe…

Perdem tudo, quando perdem um filho…

E eu,

Nada,

Aqui sentado sobre uma pedra de sono,

Cinzenta,

 

Rabugenta,

E tenho medo, meu amor,

Tenho medo dessa gaivota de sono…

Tenho medo do sono que pertence a essa gaivota,

Tenho medo do feitiço da lua

E das garras da alvorada,

Cansaço do corpo que protege o silêncio,

E depois,

Bom…

Depois vinham a nós as primeiras palavras da noite,

 

E a noite traz-nos de tudo,

Traz-nos as sementeiras da noite anterior,

Traz-nos o desejo do próximo dia…

E sempre que posso,

Rezo à minha mãe…

Que me proteja,

E que nunca me falte a paciência para um novo dia,

 

Abraço-me à imensidão deste mar selvagem,

Onde os cardumes da paixão sobrevivem apenas com duas gotas de água…

E um pequenino silêncio de sono,

O teu sono,

Esconde-se na minha mão,

 

Remexo os papeis,

Todos,

Encontro tudo,

Tudo,

Menos aquilo que procuro,

Apenas, meu amor,

Apenas preciso de um pedacinho do teu corpo…

Onde desabafar as alvoradas que perdi em Luanda,

 

Os vidros sem janelas,

O vento aprisionado na tua boca…

E se me perguntassem qual era a cor do silêncio…

Certamente,

Com toda a certeza,

Responderia…

Não o si,

Nunca o soube,

 

As cartas voam…

E só a maldita dessa gaivota é que não levanta voo,

Essa gaivota de sono,

Sem dó nem piedade…

Que se alapou nos teus lábios…

E que não me deixa aproximar…

E tão pouco escrever o que penso sobre a equação de Deus,

 

Não sei, meu amor,

Não sei se a resolva…

Ou simplesmente a deixe ficar, tal como está, em cima do guarda-vestidos…

O professor Carlos Andrade, põe-te fino Francisco…

O professor Luís Mesquita, põe-te fino Francisco…

E o Francisco que também é Luís,

Nunca sabe se quando está a falar com os professores…

É o Luís poeta,

Se é o Luís escritor de estória sem fundo…

Se se é o pintor…

Que mal acordou, após nascer…

Escreveu nos olhos da doce mãe…

Amo-te,

 

As madrugadas são como os vidros,

Sem janelas,

Sem barcos de engate,

(e se eu pudesse afugentar essa maldita gaivota de sono.)

Mas não o posso fazer,

Não,

 

Quando do silêncio,

Uma pequena árvore se ergue no teu cabelo…

Um pequeno sorriso se desenha nos teus seios de esmeralda…

E depois,

Nada,

Como sempre,

Sento-me sobre esta pedra cinzenta…

E rezo,

E rezo muito…

Que nunca tenha asas de verdade.

 

 

 

 

Alijó, 04/05/2023

Francisco Luís Fontinha


04.05.23

Há na tua mão

Um pequeno pedacinho de luar

Há no teu olhar

A manhã desenfreada e apressada

Das lágrimas à madrugada

Enquanto o silêncio se traveste de canção,

 

Há na tua mão

O alegre sorriso da alvorada

Deste relógio com fome

Há na tua mão

Um pequeno pedacinho de luar…

No luar sem nome,

 

Há na tua mão

A palavra que semeio nos teus seios em poesia

Quando o poema deixa de viver

E se cansa do dia

Há na tua mão

Um pequeno pedacinho de luar… no luar do meu escrever.

 

 

 

 

Bragança, 04/05/2023

Francisco Luís Fontinha


20.04.23

Ando às voltas

Com este barco que deixou sonhar,

Deste pobre barco de grandes revoltas…

Nas revoltas do mar.

 

São pequenos círculos de encarnado sorriso,

São marés e ventos,

São homens sem juízo,

São homens de poucos lamentos.

 

E este barco, este pobre barco… que a poesia quis amordaçar…

Este barco sem dia,

Este barco escondido no luar

 

Quando da noite acorda a lareira.

Deste pobre barco de triste melodia…

Nos olhos de uma singela ribeira.

 

 

 

Alijó, 20/04/2023

Francisco

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