Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


29.05.23

20230529_222439.jpg

Morre o mar

Nos teus olhos salgados

Morre o sono

Nos teus lábios pincelados de tristeza,

Morre a noite

Na tua mão

Morre a noite na tua mão

Meu amor,

Morre a noite anterior

E a noite que já penhoramos…

Morre no teu púbis

Toda a poesia que escrevo

Porque também ela

Meu amor

Morre como morre o mar

Nos teus olhos salgados,

 

Nos teus olhos de sonhar.

Morre o mar

Meu amor,

Morre o mar nos teus seios prateados…

Daquele mar

Teus olhos salgados

Que morrem

Como o mar,

Com o mar…

Dos dias sonhados,

 

Morre o mar

Meu amor,

Morre o mar nos teus olhos…

Morre a lua

Meu amor…

Morre a lua na tua boca,

Dos dias que não somos

Aos dias que parecemos,

 

Morre o mar

Nos teus olhos salgados

Morre o sono

Nos teus lábios pincelados de tristeza,

Morre o mar

Meu amor,

Meu amor…

 

 

 

 

Francisco

29/05/2023


19.04.23

Morres no interior das minhas mãos

Enquanto lanço para o mar

A enxada com que escrevo…

Morres tal como eu

Aos pucos

Morro…

No interior das tuas mãos.

 

Morres nos olhos desta montanha

Que subo

E que recuso descer…

Onde me sento e durmo

Como um sonâmbulo amaldiçoado.

 

Morres

Cadáver desgovernado

Príncipe do silêncio

Maldito sejas

Poeta

Poeta do enforcamento.

 

Abraço-te

Enquanto morres dentro deste meu corpo

Deste pequeno corpo ensanguentado

Doente

Envenenado pela solidão nocturna do Adeus.

 

Morres no interior das mãos

Como morrem as sombras quando acorda a noite

Morres

Cansaço em despedida…

Espingarda da paixão

Que não se cansa de disparar contra a multidão

Pedacinhos em papel

E barcos em cartão.

 

 

Francisco

19/04/2023


16.04.23

Pega na tua melhor roupa

E veste-a.

Depois

Procura a espingarda de tinta permanente,

Uma pequena folha em papel…

E dispara.

Mata tudo aquilo que dentro de ti habita,

Dispara,

Dispara…

E suicida-te na paixão das palavras.

Não tenhas medo de morrer…

Não tenhas medo em morrer acorrentado às palavras,

Dispara,

Mata;

Mata tudo aquilo brilha quando nasce o dia…

Mata e dispara

Puxa o gatilho

Porra

Mata-me

Caneta dum caralho.

 

Veste a tua melhor roupa.

Penteia-te e barbeia-te,

Calça os teus melhores sapatos,

Depois,

Puxa de um cigarro,

Acende o cigarro,

E dispara,

Mata tudo,

Mata.

Mata todos os poemas de merda que escreveste.

Não tenhas medo de puxar o gatilho da tua esferográfica…

 

Mata.

Mata-te.

Mata-os e mata as flores do teu canteiro sonolento,

Dispara,

Não tenhas medo de disparar essa velha espingarda,

Não tenhas medo de o fazer,

Mata tudo.

E depois mata-te…

Puxando o gatilho de tinta permanente.

 

 

Francisco

16/04/2023


22.03.23

No esplendor da noite

Um fio de sémen

Poisa na sombra adormecida do meu esqueleto,

E da paixão dos pássaros,

Oiço os gritos de um Deus arrogante…

Distante dos rostos envenenados da solidão,

 

O rio,

Morre na minha mão…

Como morreram todos os rios,

Como se suicidaram todos os rios que conheci…

Todos,

Todos na minha mão,

 

Desenho no teu pincelado olhar

A tristeza que os dias transportam desde a montanha,

O sol, o sol esconde-se numa pequena caixa de sapatos,

E do corpo,

As pequenas lâminas da alegria…

Fogem em direcção ao mar,

 

Cai a máscara sobre o chão lamacento do silêncio,

Ouvem-se os gritos e gemidos da morte…

E da minha mão,

O enforcado rio em pedacinhos de sorriso…

Feliz;

Feliz porque deixou de sofrer…

E agora…

Brinca dentro de um cubo de vidro

Com janelas adormecidas

E olhos adormecidos…

 

 

 

Alijó, 22/03/2023

Francisco Luís Fontinha


07.10.22

Não te esqueças de acordar,

E se não acordares pela manhã,

Não entres em pânico,

Podes estar morto,

Podes estar a sonhar,

 

Mas tenta sempre acordar,

Mesmo que estejas morto,

Ou esquecido de acordar…

Levanta-te,

Ergue-te,

 

E compra um ramo de flores,

Encarnadas, se possível, oferece-as a quem amas…

Veste o teu melhor fato,

Se fores mulher, pinta os lábios,

Mas nunca te esqueças de acordar,

 

Acordar pela manhã,

E se acordares morto,

Não te lamentes,

Não fiques triste,

Porque há mortos felizes,

 

Porque há mortos contentes,

Não te esqueças de acordar,

Desfazer a barba,

O duche,

O cigarro e o café… e então poderás partir.

 

 

 

Alijó, 07/10/2022

Francisco Luís Fontinha

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub