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francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


28.05.23

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O corpo

O corpo é apenas um silêncio

Um segundo-luz

O corpo

É uma imagem

Não consensual

Para uns e tal

Para outros

Nada mal

 

O corpo

O corpo é uma fachada

Por vezes

Por vezes com estrutura defeituosa

Assim-assim

E o corpo não passa de um silêncio

Um pequeno silêncio

 

Se eu quero conversar sobre Dostoievski…

Não

Não pergunto ao corpo

Se ele quer conversar comigo sobre Dostoievski

E claro que o corpo nada sabe de Dostoievski

(mas acha-se de engraçadinho, às vezes)

 

O corpo

O corpo…

(é evidente que o poeta fala do seu corpo)

O corpo é um pedacinho de luz

Nos lábios do silêncio

O corpo não fala

O corpo escreve

E masturba-se

O poeta escreve

E o corpo…

É apenas um corpo

Um milímetro quadrado com massa de um grama…

À velocidade do desejo

 

O corpo corre

Na luz do silêncio

Tomba

Chora

Grita

O corpo morre

No silêncio que se move

Em círculos de luz

Em quadrados de saudade

O corpo vomita lágrimas de insónia

E um quintal (unidade de massa aprox. = 46 Kg) de estupidez

 

Depois o rio levou os caixotes

Pouca coisa

Algumas miudezas

E corpos

Corpo de medo embalsamados…

 

O corpo

O corpo é apenas um silêncio

Um segundo-luz

Um abraço desenhado pelo vento…

O corpo

O corpo é uma jangada

Onde se deita a madrugada

O corpo é tudo…

O corpo

Às vezes

Não é nada.

 

 

 

Francisco

28/05/2023


28.05.23

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Desta selva

Encalhada entre o mar e a terra

Desprovida de palavras

Actos

E pequenos nadas

 

Desta selva

A selva de salve-se quem puder

O esperto ao quadrado

Até à equação diferencial do imbecil

 

Nesta selva

Pacata

Parva

E senil

Desta selva de palavras

De pontes metálicas

Desta pequena selva

Encalhada entre o mar e a terra

Actos

E de pequenos nadas

 

E os nadas são tudo

No meio das palavras

Dos actos

E do pecado

Da selva

Na selva habitada e contente

Como as estrelas

Durante a noite…

De engate em engate

 

Depois

O apito

Partida de Cais do Sodré

Alcântara mar

Mais dois apitos

Dois pirolitos

E começa a festa

Na selva

 

Da selva de salve-se quem puder

Os barcos tombam embriagados

A noite

Coitada da noite…

A noite é tão bela

Tão bela

Por isso é fria

Escura

E tímida

 

E a selva cresce

Triplica

Tem filhos

Vão à escola

E nada…

A selva morre

E deixa todos os animais tristes

 

Da selva

Belém envergonhada

Sentemo-nos então meus queridos irmãos

E irmãs

E filhos de Deus…

Sentemo-nos sobre esta sombra de giz

Junto ao Padrão dos Descobrimentos

 

Ouviam-se as pulgas

Das pulgas que labutam

Que lutam

Que trabalham…

E se fodem quando chove

 

É a selva

A selva onde habitamos

Em betão

De cartão

Com porta de abrir à direita

Com porta de abrir à esquerda

E é selva

Com um rio em tesão de sono

E pintura metalizada

 

Encostava-me ao muro da selva

Fumava

Fumava enquanto num pequeno caderninho…

Apontava os dias que se tinham suicidado em mim…

E contei

E contei…

Eram muitos

São muitos

Dias

Que não conseguiram aturar-me

E pimba

Mataram-se

No Bugio

 

Desta selva

Encalhada entre o mar e a terra

Desprovida de palavras

Actos

E pequenos nadas

E muitas coisas

Chocolates

No Bugio

Pimba

E contei

E contei…

 

 

 

Luís

28/05/2023


28.05.23

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Desce a rua

O ausentado nocturno

Procura na algibeira o último cigarro do mês

Acende-o

E senta-se junto ao rio

 

Procura na paisagem

As estrelas de além-mar

E as estrelas de ontem

Algures entre o sono

E a décima quinta noite de insónia

 

Desce a rua

O aprumado esticadinho

O ausentado de Domingo

Sem perceber que na mão

Transporta o pecado da palavra

 

Desce

Desce a rua

O ausentado senhor

De livro na mão

Cigarro

O último cigarro do mês

E está feliz

Que feliz ele está…

O senhor

O Dom ausentado

 

Desce

Desce a rua

O ausentado nocturno

Procura um cadáver para alugar

Com vista para o mar

Um pequeno quartinho

E uma sala enorme…

Onde se senta

Onde se deita

Onde morre

 

Desce

A rua

Que desce o ausentado nocturno

Das flores migratórias

E das palavras avulso

Uma estória de morte

E sexo

Durante a noite

 

Desce

Devagarinho a rua do ausentado

Do Domingo de ausência

Em pequenas drageias de silêncio

E o que procura não encontra

Não sabe o que procurar…

E enquanto desce

Desce a rua

O ausentado senhor…

Uma lágrima de saúde desenha-se no seu olhar.

 

 

 

 

Luís

28/05/2023


28.05.23

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Abraça-te aos meus braços de insónia

Quando o poema cresce nos meus lábios

Das palavras

As flores perfumadas

Dos teus olhos de amanhecer

Abraça-te ao silêncio da minha boca

Desta palavra envenenada

Cinzenta nuvem que poisas em mim

E não se cansa de crescer

 

Abraça-te às minhas tristes madrugadas

Dos poemas escritos

Dos poemas não lidos

Abraça-te aos meus braços de insónia

Abraça-te às tardes masturbadas

Do beijo que voa sobre o mar

 

Abraça-te às estrelas que habitam nos meus olhos

Rio curvilíneo

Da paixão entre parêntesis

Ao quadrado do cubo

A mão que afaga o meu rosto

Do Inverno escondido

Abraça-te à sombra de luz que me abraça

Quando a noite em gemidos

Dos abraços

O poema pertence aos meus lábios

 

Abraça-te pedacinho de mar

Fotão das noites em delírio

Abraça-te a este poema

Com fome

Com frio…

 

Abraça-te às minhas lágrimas de sono

Quando a noite pertence ao infinito

Abraça-te aos meus braços de insónia

Das palavras que morrem

Nas palavras que crescem

E brincam

Nos teus lábios de mel

 

Abraça-te aos meus braços de insónia

Quando o poema cresce nos meus lábios

Das palavras

As flores perfumadas

Dos teus olhos de amanhecer

Nos teus olhos as minhas palavras.

 

 

 

 

Francisco

28/05/2023


27.05.23

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Do teu corpo

Que abraço

No teu corpo onde escrevo o sorriso da manhã

E desenho o gemido da noite

Do teu corpo

Que abraço

No teu corpo

Que beijo

Do corpo

Que enlaço

Em desejo

Neste quarto.

 

Do teu corpo

Que abraço

Que beijo

E enlaço

No meu corpo

No teu corpo

O desejo

O abraço.

 

Do teu corpo

Que abraço

No teu corpo onde me deito

Nesse corpo

Das palavras

Dos desenhos

E dos beijos

Do teu corpo

Esse corpo

Nesse corpo que beijo

O do abraço

O silêncio

Em palavras

Em pequenos gestos…

De pequenos beijos.

 

Do teu corpo

Que abraço

No teu corpo me endireito

Do teu corpo

O uivo louco da tarde

Do teu corpo

Entre palavras

Entre corpos de luz

Me deito

Me abraço

E beijo

O teu corpo

Do corpo

Do corpo que me seduz.

 

Do teu corpo

O meu corpo

Enrolado em milhões de estrelas

No meu corpo

Deitadas

Quietinhas…

Quando o teu corpo

No meu corpo

Ferve.

 

Do teu corpo

O abraço

Quando o teu corpo

No meu braço

Voa

Voa para dentro de mim.

 

E do teu corpo

O meu corpo

Dois pontos de luz

Duas pequenas esferas de polietileno

Que dançam na noite

Que fervem

Que fervem como os nossos corpos

E dizem que são felizes

Muito felizes.

 

 

 

Francisco

27/05/2023

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