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francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


10.12.15

Este apeadeiro sem telhado

Sofrido nas frestas e nas ripas e nos pregos

A farsa de um comboio vomitando na noite escura

Palavras

Apitos

E homens de chapéu negro

Inventam uma revolução

Eles gritam

“queremos pão”

Não é crime pedir pão

Não é crime ler com um pão na mão

Crime é sentir a liberdade

Sentada

Numa jaula com grandes de cartão…

Crime é não ter a liberdade desejada.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 10 de Dezembro de 2015


16.11.15

esconde-se o corpo no tapete nocturno da solidão

as cânforas manhãs do desassossego libertam-se das amarras

a liberdade acorda

todas as flores são livres

e todos os pássaros voam sobre os cabelos da alvorada

o olhar da serpente brinca num longínquo quintal abandonado

onde uma criança

também ela livre…

sonha com barcos em papel e estrelas coloridas

o corpo nunca teve medo

a não ser da solidão

que é a única prisão que amedronta o homem sem corpo…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 16 de Novembro de 2015


02.11.15

Sou refém das minhas palavras

Um prisioneiro sem cela

Um carcereiro endiabrado dando-me porrada

Pancada em mim

Esta vida

De ser

Assim

Sem mim

Abstracto do teu olhar

Sou refém das minhas palavras

Quando estes arbustos pela manhã

Me cumprimentam

Abraçam

E beijam

Pego nos livros teus

E misturo-os com os livros meus

Tudo palavras

De que sou refém

E ninguém

Desta cela prisioneira…

 

Sem ninguém.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 2 de Novembro de 2015


14.10.15

desenho_13_10_2015.jpg

Fontinha – Outubro/2015

 

A estátua que habitava no teu peito

Esta sentada, hoje, numa cadeira sem jeito,

Brinca, hoje, num jardim amarrotado por mãos inanimadas,

Como são tristes todas as madrugadas

E todos os versos do poeta,

Como são tristes todas as manhãs embriagadas

À mesa com um qualquer pateta,

Um imbecil encurralado na noite

Esperando o acordar de um relógio sem alma,

Chora, acredita nas lágrimas do sofrimento,

Chora, e inventa o inferno

No corpo do vento…

 

A estátua… não se cansa de dançar

Sobre a tua pele grená…

Os lábios manchados de sangue,

Os braços entranhados na face de um inocente,

Chora, acredita na liberdade,

Chora, acredita na saudade

Dos ausentes corpos de esferovite,

Grita, grita contra o muro invisível da prisão,

Morre a verdade,

Morre o ditador em pedacinhos de cacimbo…

Rasga o convite

E fica esquecido no tédio limbo…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 14 de Outubro de 2015

 


26.11.13

foto de: A&M ART and Photos

 

(sou um prisioneiro covarde

sem vontade de fugir

sem vida para viver)

 

sou um pergaminho pássaro que arde na lareira dos sonhos

um prisioneiro covarde

sem vontade

navegando sobre os carris invisíveis da cidade

invento madrugadas

invento sandes de realidade

e algibeiras vazias

sem nada

sou um prisioneiro ambulante

uma roulote desgovernada

em direcção ao mar

em direcção... ao nada

 

sou uma ponte quebrada

uma puta abandonada

 

(sou uma tenda de circo

com palhaços

eu... eu disfarçado de gaja

servindo chocolates com amendoins...)

 

sou um prisioneiro pregado às janelas do inferno

viajo de árvore em árvore

de vão em vão

de cigarro

ao cigarro

sem cigarros

subo as escadas sem corrimão

chego ao sótão

estás tu mergulhada no espelho corneando o cinzeiro de prata

desço

desço às sanzalas de lata

e não consigo derreter as amarras

 

(sou um prisioneiro covarde

sem vontade de fugir

sem vida para viver)

 

sou o alimento dos alimentos

os pólens insaturados dos guindastes que dormem no porto de Luanda

embarco

desembarco

desço

e subo ao sótão dos corneados cinzeiros de prata

abro o postigo com fotografia para a ribeira da tristeza

nua

a beleza alegria correndo como sandálias de gelatinosas geadas de vidro...

e eu fingindo amores supérfluos num cadeado de madeira

e o macaco da vizinha a comer as minhas amêndoas

e eu... eu um prisioneiro covarde sem vontade de partir...

 

chorando subtilezas e pedaços de papel celofane...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 26 de Novembro de 2013

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