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Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.

Francisco Luís Fontinha

Blog do poeta e artista plástico Francisco Luís Fontinha.


09.01.21

Quando as amarras se desprendem da paixão e, o rio galga os socalcos da insónia.

 

 

Eles tiram-nos a vontade de caminhar,

Mas nunca, nunca, nos tirarão a razão de pensar.

O amor,

A paixão entre dois corpos cerâmicos,

Quando dois lábios de seda, ao nascer do sol, se entrelaçam na maré e,

Um finíssimo fio de chuva,

Dorme, docemente, na cânfora manhã de ontem;

Sois vós, aqueles que me apedrejam e, depois, vêm lamber-me o cu.

Os livros, dormem,

Todas as estátuas, dormem… e,

Até as palavras, vejam lá, também elas, dormem.

O circo,

Os palhaços de farrapos que dormem na soleira das portas,

Também elas,

Todas,

Encerradas.

Querem que ele trabalhe, estude, seja educado, obedeça.

Mas, obedecer, nunca.

Como os pássaros,

Livres pensadores do destino,

Erva daninha dos caminhos de areia,

Que depois,

Dormem, como as palavras dele.

A paixão.

O orgasmo literário de um pobre blog,

Uma simples fotografia de um momento passado,

Cadernos mortos,

Corpos assados,

Na fogueira,

Da língua dos outros.

A boca, incha,

Morre de desgosto,

Sepultam-se os corpos cerâmicos, na fogueira do incenso,

Morde as palavras e,

Grita; foda-se.

Os sete cavalos de aço,

As sete pernas de gesso,

Os setenta corvos da madrugada,

Que o diabo deixou acordar;

Foda-se.

Amanhã estará neve na minha aldeia,

Um rio de sémen, em demanda, correrá para o abismo,

Nascerá mais tarde uma borboleta em papel,

Que o menino deixa adormecer na sua mão.

Hoje, sábado, tarde manhosa, triste,

Dançam as crianças à volta da fogueira,

Pequenos livros, grandes papeis,

Voam e, deixam em mim,

A cinza da tristeza.

Choram eles.

Gritam gemidos de ódio, elas.

Como sabem, o amor é uma pedra linda,

Que caminha junto ao rio;

Foda-se. A água salgada da língua amaldiçoada.

Corpo,

Carne,

Sangue,

Pedaços de pedra,

Amuletos de nada…

São estas as brincadeiras da sereia.

A mesma sereia, aquela que dorme como um porco,

Num qualquer comício de aldeia.

Foda-se, amanhã não.

Fecha.

Abre as pernas, filho,

Porque o Governo te vai foder.

E fode-nos, como fodem as pedras todas as cabeças e cabeçudos do circo e,

Fode-nos, como todos os pregos de aço que serpenteiam as manhãs de sábado.

Os secretos AMORES que habitam esta casa,

Fecha.

Abre.

Fode-o profundamente como que fode o próximo.

Come. Não come. Tem fome, ninguém quer saber.

O gajo é fodido.

Escreve nas paredes da insónia…

Estou farto desta merda.

Merda.

Foda-se.

Ponto final.

Paragrafo.

Amanhã, Domingo.

Hoje, um corpo suspenso na avenida.

O poema, morre.

Como morreram todas as palavras de há pouco;

A marmelada, fria,

Azeda ternura.

Os beijos.

A ferradura.

A mão de enxada na mão.

O polícia quase a vomitar parágrafos e travessões…

“Felizes os convidados para a ceia do Senhor…”

Que são poucos.

Bons companheiros de tribunal.

Levanta-se o réu: inocente, “senhou” Juiz.

Inocente.

Pernas, paus, picaretas, todos à molhada,

Parecendo brinquedos em plástico,

Que o tio “Celito” vende nas ruas de Lisboa…

O cu amarelejado de centeio,

A peida perfumada, quando se senta na esplanada, assume que é apenas um pouco de raiva, a que sente ao estar completo no signo mais estúpido do zodíaco.

Há fogo dentro dela.

Ardem palavras de amêndoa, cornos descascados e,

Putas, muitas, na feira da cidade.

Assim termina mais um confinamento:

Fodam-se.

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó, 09/01/2021


11.03.20

O tempo silencia os teus lábios de cereja adormecida,

Quando a nuvem da manhã,

Poisa docemente no teu sorriso;

Há palavras na tua boca,

Que absorvo com saudade,

E, nada me diz, que amanhã será uma manhã enfurecida pela tempestade.

Subo à sombra do teu olhar,

E, meu amor,

O cansaço da solidão deixou de acordar todas as manhãs.

Fumamos cigarros à janela,

Dentro de nós um volante de desejo,

Virado para a clarabóia entre muitas janelas,

Portas de entrada,

Escadas de acesso ao céu,

E, no entanto, o fumo alimenta-nos a saudade,

Porque lá longe,

Um barco de sofrimento, ruma em direcção ao mar.

É tarde,

A noite desce,

O holofote do silêncio, quase imparável, minúsculo, visto lá de cima,

Ruas, caminhos sem transeuntes, mendigos apressados,

Vagueando na memória.

STOP. O encarnado semáforo, cansado dos automóveis em fúria,

Correm apressadamente para Leste,

Nós, caminhamos para Oeste,

E, nunca percebemos as palavras que as gaivotas pronunciam,

Em voz baixa,

Com os filhos ao colo,

Sabes, meu amor?

Não.

Amanhã há palavras com mel para o almoço,

Dieta para o jantar,

E beijos ao pequeno-almoço;

Gostas?

Das nuvens da manhã?

Ou… dos pilares de areia que assombram a clarabóia?

Nunca percebi o silêncio quando passeia de mão dada com a ternura,

De uma tarde junto ao rio,

Ele, folheia um livro,

Ela, tira retractos aos pássaros,

E, porque te amo,

Também vagueio,

Junto ao rio,

Sem perceber o meu nome,

Que a noite me apelidou,

Depois do jantar,

Numa esplanada de gelo.

O ácido come-me, a mim, às palavras, como a Primavera,

Num pequeno quarto de hote,

Entre vidros,

Livros,

Palavras,

E, desenhos.

(aos depois)

Nada.

Brutal.

Os comprimidos ao pequeno-almoço.

Fim.

Amanhã, novo dia, nova morada, beijos,

Cansaços,

Abraços,

E, portas de entrada.

O amor é luz.

O amor são flores, árvores e, pássaros.

E pássaros disfarçados de beijos.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

11/03/2020


08.04.19

Parem todos os imbecis.

Parem todos os ignorantes,

Energúmenos e os ausentes.

Parem todos os automóveis,

Parem todos os loucos,

Parasitas e poucos.

Parem todas as campainhas,

A minha,

A do vizinho.

Parem a Terra,

O silêncio,

E as mulheres belas.

Parem o trânsito,

As ruelas,

Ruas,

Cadelas.

Parem as putas,

Os putos…

E as naus encarceradas nas tuas mamas.

Parem.

Por favor, parem.

Parem as flores,

Os jardins,

Os amores.

Parem.

(Parem todos os imbecis.

Parem todos os ignorantes,

Energúmenos e os ausentes).

Parem os chulos,

Prostitutos,

Afins…

Parem tudo. Dói-me a cabeça.

 

Parem.

 

E, respeitem os ciganos!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

08/04/2019


08.06.17

Nunca me encontrarás porque eu sou a sombra,

Nunca me encontrarás junto ao rio a escrever nos teus lábios de Belém,

Nunca me encontrarás nos jardins de Belém…

Nem nunca me encontrarás abraçado aos braços da maré,

Nunca me encontrarás sentado a pensar em ti… porque, porque deixei de pensar em ti,

Hoje, nunca me encontrarás a desenhar nos teus lençóis os meninos a brincar na praia,

Porque a praia morreu,

Porque os meninos morreram,

Nunca me encontrarás enamorado pelo teu olhar,

Debaixo das nuvens envergonhadas dos finais de tarde,

Nunca me encontrarás enrolado nas tuas mentiras…

E batem à porta…

E espero que não me encontres neste circo ambulante,

Observando as árvores assassinadas pelos teus dedos…

Nunca me encontrarás nesta casa desajeitada e sem porta de entrada,

Que nem uma simples caixa do correio tem para receber as tuas cartas perfumadas,

Nunca me encontrarás a olhar o Sol… porque odeio o Sol,

Detesto o Sol.

Nunca me encontrarás passeando na rua atropelando automóveis famintos,

Tristes…

Tristes desencontros das ancoradas em flor…

Nunca me encontrarás nas tuas cartas nem no interior dos teus livros,

Porque não o quero…

Não quero ser encontrado.

Nunca me encontrarás.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 8 de Junho de 2017


09.05.16

O desgosto da vida.

Sinto a chuva explorando o meu débil corpo,

Que a noite alimenta

Como a morte se alimenta dos corpos,

Há uma película de sémen alicerçada às tuas mãos

De pergaminho,

As palavras fogem-me e sinto-me um inútil desgovernado…

Um barco sem comandante.

O deserto de ser eu,

A areia fina das tuas lágrimas entrelaçadas nos meus dedos,

O silêncio, meu amor,

O silêncio que confunde o horário do meu pulso,

E mais logo se inverte na escuridão,

Sei que estou aqui de passagem,

Ando de rua em rua para te recolher e agasalhar no meu peito…

Mas é-me difícil encontrar-te,

A embriaguez nocturna das sementes nas profundezas da terra,

Tão fundas, meu amor, e tão belas, meu amor,

Estremeço se te encontrar,

Morro de aflição pela tua ausência…

No suicídio do poema.

O desgosto da vida, o corpo despovoado de ossos e pequenos répteis…

Tenho uma cobra abraçada ao meu pescoço,

Um ténue letreiro onde alguém escreveu… FIM.

Não tenho amigos, amigas,

Tenho livros assassinados por mim,

De noite olho todo este amontoado de cadáveres envenenados pela paixão,

E tu, meu amor, e tu sempre ausente deste cemitério de palavras e desenhos,

Apenas eu, meu amor, apenas eu olho para eles…

E vejo o meu rosto sofrido.

O desgosto da vida,

A vida nas pedras húmidas da manhã

Quando a chuva se estende até ao mar,

A penumbra madrugada

No esconderijo do sono,

As minhas mãos, meu amor, abstractas, e não dou conta da vida se escoar em direcção ao Luar,

O segredo que faz com que eu não te encontre,

Percorro esta rua,

Percorro aquela rua,

Com saída,

Sem saída…

E tu, meu amor, sempre no desgosto da vida.

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 9 de Maio de 2016

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