Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


14.05.23

Às vezes, penso,

Penso muito, meu amor, às vezes penso de onde vêm estas imagens que semeio nas telas e em pequenas folhas,

Às vezes, penso,

Penso muito, meu amor,

De onde vêm todas estas palavras que escrevo,

De onde vêm todas estas imagens e todas as palavras,

 

Às vezes, meu amor, às vezes sinto o medo…

O medo de que estas imagens se abracem a mim

E algum idiota me diga que estou louco…

Mas não será essa loucura com que nos apelidam…, a melhor forma de sonhar o mundo?

Às vezes, meu amor, às vezes penso e sonho…

 

Penso que estou a sonhar,

Muitas vezes sonho que estou a pensar,

Às vezes penso,

Penso e dizem-me que não devia pensar, tanto…

Mas penso,

Mas sonho,

Sonho que penso que nenhuma criança terá fome,

Penso que sonho que nenhuma mulher será espancada…

E penso, penso muito, meu amor…

 

Penso e imagino a alvorada,

Sonho e penso, quando se despede de mim o luar…

Penso, meu amor, penso muito,

Que não devia pensar tanto,

Penso por que razão todas estas imagens e palavras fizeram parte das minhas brincadeiras em criança,

Penso, meu amor,

Penso muito, penso que se despede o dia… e uma infinita madrugada está para regressar,

E abraço a noite, como te abraço… lentamente…

 

E penso, e sonho…

E muito lentamente olho-te e percebo que tens uns olhos lindos…

Gosto de olhar os olhos e deles receber as estrelas da manhã…

 

E penso, muito, que não devia pensar,

Mas penso,

E sonho,

Sonho que penso,

Penso no que sonho…

E alguns dirão; está louco,

 

Às vezes, penso,

Penso muito, meu amor, às vezes penso de onde vêm estas imagens que semeio nas telas e em pequenas folhas,

Às vezes, penso,

Penso muito meu amor…

Penso que às vezes a escuridão é uma óptima companhia,

Depois, meu amor, penso…

O que dirá o gladíolo para a tulipa!

Ou será que estão ambos quase abraçados…

E nada dizem,

Ou será que dizem?

 

E eu, penso, penso muito, meu amor…

Penso que há dias de chuva loucamente felizes,

E que há dias de sol que são uma autêntica merda,

E uma criança fica encantada com um brinquedo…,

Mesmo que não tenha qualquer valor comercial…

Porque ainda há crianças que não sabem o significado de brinquedo,

 

Tive-os, muitos.

Destruía-os…

(dizem que saí ao tio António, mal recebia um brinquedo destruía-o imediatamente…

E quando lhe perguntavam, era para ver como era por dentro)

Eu fazia o mesmo,

Tive-os,

Muitos…

Mas muitos não os tiveram,

E alguns que os tiveram…

Viviam em casas assombradas;

Felizmente a minha casa nunca foi assombrada,

 

E penso.

E sonho,

Sonho muito, meu amor,

Sonho e penso, que fazer com todas estas imagens…

E sonho que penso,

Quando depois de pensar o que sonhei…

Nada;

Fecho a janela e hoje não me apetece mais olhar o mar.

Cansei-me, hoje, meu amor… cansei-me do mar.

 

E penso,

E dou comigo a pensar,

Que sonho,

Mas não,

Só poderei estar a sonhar.

 

 

 

 

Alijó, 14/05/2023

Francisco Luís Fontinha


24.04.23

Se o vento vier, se o vento me escutar,

Pedirei ao vento …

Tempo,

Pedirei ao vento os olhos da menina do mar.

 

Se o vento vier, e trouxer uma flor

Na eterna flor em teu cabelo amordaçado,

Deixo nos teus lábios um recado…

Dos teus lábios de amor.

 

Se o vento vier, se ele vier um dia,

Peço ao vento que faça do meu rio de esperança…

Um rio de poesia,

 

E que o vento me deixe viver,

Viver como uma criança,

Uma criança sem sofrer.

 

 

 

Alijó, 24/04/2023

Francisco Luís Fontinha


23.04.23

Deitas a cabeça no meu peito,

E sonhas,

Sonhas que os meus sonhos se tornem realidade,

Sonhas que eu nunca deixe de sonhar,

Que nunca deixe de amar,

 

Deitas a cabeça no meu peito,

E sonhas,

Que o mar da minha infância,

Um dia,

Um dia nos entre pela janela,

 

Que um dia,

Os sonhos de sonhar…

Sejam os sonhos de sonhar,

Deitas a cabeça no meu peito,

E sonhas,

 

Sonhas que a madrugada acorde nos nossos corpos em paixão,

E sonhas,

Sonhas…

Deitas a cabeça no meu peito,

E rezas,

 

Deitas a cabeça no meu peito,

E pedes protecção Divina,

Que o teu Deus nos proteja,

Que o teu Deus nunca se esqueça de nós…

Deitas a cabeça no meu peito… e sonhas.

 

 

 

Alijó, 23/04/2023

Francisco Luís Fontinha


16.04.23

A espada de luz

Que aos poucos se alicerça no meu peito

É a chave que a noite me dá

É a chave que a noite me tira

A espada de luz

Que invento nos meus olhos

Será o veneno dos meus sonhos

Enquanto eu tiver sonhos

Enquanto eu tiver vida,

 

Enquanto eu tiver noite

Enquanto eu tiver olhos

Enquanto esta espada de luz tiver vida

Vida própria

Emoções

Cansaços

E desilusões,

 

Esta pequena espada de luz

Levar-me-á ao silêncio dos teus olhos

Enquanto os teus olhos

Enquanto esta espada de luz

Tiverem vida

Enquanto o meu peito

For um pedaço de mármore abandonado

Um pedaço de mármore sem memória.

 

 

 

16/04/2023

Francisco Luís Fontinha


03.03.23

Os sonhos são uma (merda) segredava ele aos pincelados pingos de chuva da manhã,

Depois, sentava-se na primeira sombra que encontrava e…

Esperava que o tempo se escoasse sobre os ombros.

Do outro lado da rua, junto à montra onde se passeavam espantalhos e pequenos monstros, um silêncio de sono veio até ele, olho-o e

Tombou no seu peito.

Das sílabas da carne ao desejo de fugir foi apenas um espasmo, ergueu-se da pedra onde tinha ficado esquecido vários dias, porque ao que parece ninguém reclamou a sua falta, e começou a correr em direcção aos rochedos de onde se podiam ver as primeiras lágrimas da manhã.

Um sorriso iluminou-o,

Era o sorriso de sua mãe,

Que voava por aquelas bandas, sem perceber porque razão o filho corria, corria apressadamente para tais rochedos.

Chegado aos rochedos, recordou a infância difícil, recordou todas as fotografias que já tinha rasgado e posteriormente lançado à lareira os pedacinhos que se amontoavam sobre a secretária, escreveu uma carta sem remetente, que tempos depois, alguém descobriu no bolso de um velho casaco que tinha ficado esquecido num barco aportado junto ao cais e em adiantado estado de decomposição,

O corpo morre, apodrece…

Pó, meu querido filho.

Brevemente serás pó.

E como tudo na vida, apenas pó,

Os sonhos sonhados e os sonhos não sonhados; poeira sobre um manto de lágrimas à espera do vento,

E quando acorda o vento,

O Santo Sepulcro da infâmia acorda, senta-se junto à lareira e…

E dizem que ele estava feliz.

Tão feliz, tão feliz…

Que lançou-se dos rochedos e há quem acredite que ainda hoje voa sobre os plátanos e as acácias,

 

 

Lâminas do cansaço

 

 

Procuras-me dentro deste pequeno cubo em vidro

Onde semeei as primeiras letras do alfabeto,

Procuras-me junto aos bares de uma Lisboa desencaixotada,

Triste memória,

Triste e ancorada,

 

Procuras-me enquanto o sono

Desce do primeiro silêncio em luar,

Olhas-me,

Olhas-me e acreditas que estou vivo,

Mas olha que não,

Que não,

 

Que não tenho sonhos,

Barcos para brincar,

 

Procuras-me nas estantes…

Talvez penses que me escondo dentro de um pequeno grande livro,

De poesia seria o desejado,

Mas começo a odiar a poesia,

As palavras,

E o dia…

 

Os sonhos são uma (merda) segredava ele aos pincelados pingos de chuva da manhã,

Depois, sentava-se na primeira sombra que encontrava e…

E o sono eterno apoderava-se dele,

Como a miséria,

Como a reencarnação do Diabo travestido de flor;

A mais bela flor do Universo.

 

 

 

 

Alijó, 03/03/2023

Francisco Luís Fontinha

(ficção)

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub