O que resta de mim,
Um amontoado de ossos,
Sem nome,
Pedaços de nada,
O que resta de mim,
Depois de tantas tempestades,
Silêncios…
E mares;
Alguns, navegados.
O que resta de mim,
Depois que o silêncio se travestiu de mendigo,
Quando neste pequeno papel,
Escrevo-te aquilo que poderia ser uma carta de despedida…
Mas não me despeço
E vou andar por aí…
O que resta deste corpo em constante baloiço,
O que resta de mim,
Depois de o vento levar o meu cabelo,
As mãos com que afago o teu cabelo,
E os meus lábios…
Com que desenho nos teus lábios,
O beijo.
O que resta deste miúdo,
Que transportava uns simples calções
E umas sandálias em couro…
O que resta de mim,
O que resta de mim…
Um amontoado de ossos,
Sem nome,
Pedaços de nada,
E algumas palavras…
O que resta de mim
E da minha terra,
Onde o sangue jorra por entre o capim,
O que resta de mim
E da minha terra,
Quando a chuva cai…
E aquele cheiro inconfundível se ergue até ao céu,
O que resta de mim,
Poema do meu peito,
Palavra que respiro…
E em cada final de dia,
Vomito a solidão das noites aprisionado,
O que resta deste louco poeta,
O que resta de mim,
Deste pobre pintor…
O que resta de mim,
Quando Deus…
Não quer que reste nada.
Alijó, 09/05/2023
Francisco Luís Fontinha