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francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.

francisco luís fontinha

Nunca vi o mar, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu... francisco luís fontinha.


05.06.23

Não desistas,

Não desistas se tens sobre ti as nuvens cinzentas da dor…

Repentinamente,

As nuvens podem ficar transparentes…

E a dor…

Passageira.

 

Não desistas,

Não desistas se as árvores do teu jardim não têm pássaros…

Um dia…

Um dia poderão ter discos voadores.

 

Não desistas,

Não desistas se as tuas noites são um pesadelo…

Um dia,

Qualquer dia…

As tuas noites poderão ser o silêncio quando dança nas mãos de uma criança…

Não,

Não desistas.

 

 

 

 

Luís

05/06/2023


03.06.23

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Deste silêncio pouco

Deste pouco nada

Ainda me sobram algumas palavras

Umas boas

Outras

Outras muito parvas

E muitos nadas.

 

Dos nadas

Todas as minhas palavras

E hoje a noite

A noite

Não a minha noite

Mas hoje a noite está triste

Já me atirou com lágrimas…

Com sorrisos de fúria…

Nem uma estrela para olhar

Ou

Outras…

Pedir um desejo.

 

E o que posso eu desejar

Que já não tenha desejado

Escrito

E desenhado

No entanto

Desejo

Muito

Não morrer de cancro.

 

 

 

Francisco

03/06/2023


29.05.23

Tudo arde

Tudo arde nesta mão de cera

Tudo arde

Tudo arde no meu coração

Sem nome

Tudo arde

Arde na minha mão

Na minha mão com fome,

 

Tudo arde

Quando se ergue a manhã

E da minha mão de cera

Fogem as primeiras lágrimas de luz

E tudo arde

Nesta mão

Desta mão que conduz,

 

Tudo arde

Dentro do silêncio

Quando esta lareia apelidada de vida…

Habita o Oceano mais profundo…

Tudo

Este mundo

Arde

Na minha mão

Desta mão covarde.

 

 

 

Francisco

29/05/12023


29.05.23

20230529_144556.jpg

Todos os dias

Destes pequenos dias

Oiço a voz do silêncio

Quando lá fora

Distante

As matrizes transpostas da insónia

Escondem-se do sono

 

Todos os dias

Destes pequenos dias

Há um pequeno viajante

Que parte

Outro

Outro que regressa

E a vida é assim mesmo

Uns partem

Outros

Outros regressam

 

E a nossa vida

A minha vida

É uma recta

Com um ponto de partida

Com outro ponto de chegada

E parto

E regresso

Nesta vida

 

 

 

 

Luís

29/05/2023


16.05.23

Conversamos então,

Meu amigo,

Conversamos sobre esta vida,

Desta vida,

Meu amigo,

Conversamos sobre os pássaros da minha infância,

Dos barcos da minha infância,

Conversamos então,

Meu amigo,

Conservamos sobre o mar,

O mar da minha infância…

 

Ai meu amigo…

Conservamos então,

Conservamos sobre as flores que se apaixonam por poetas,

Conservamos então,

Meu amigo,

Conversamos sobre os poetas que se apaixonam pelas palavras…

E as palavras que se apaixonam pela amante do poeta,

Mas sabes, meu amigo…

Conversamos então,

Conservamos sobre a amante do poeta que está apaixonada…

Apaixonada pela mão do poeta,

Da mão de onde nascem as palavras,

Do poeta, meu amigo,

Do poeta.

 

Deste teu poeta, meu amigo…

Conversamos então, meu amigo,

Conversamos sobre o meu pai,

Meu amigo,

Conversamos então…

Conversamos sobre o meu pai,

E não há muito a conversar…

Mudou de residência…

Conversamos então, meu amigo,

Conversamos então sobre a tua mãe…

Conversamos então,

E quanto a ela,

Também mudou de residência,

E sabes, meu amigo,

Concluo que ambos mudaram de residência,

E devem estar muito felizes…

 

Eu, meu amigo,

Já quase não vou ao cemitério…

Cansei-me,

E sabes, meu amigo,

Comecei a vender umas merdas que pinto…

Qualquer dia vendo poemas,

Sim, pá,

Poemas,

Não sabes o que são poemas?

Vendo-os a retalho e a cinco suaves prestações,

Fixas,

Sem juros…

Porque meu amigo,

Tu conheces-me…

Não sou desses,

Depois,

Depois das poucas vezes que passo por ti…

Dou-te as boas-horas…

E um dia vamos inventar uma máquina de escrever poemas…

Percebes?

Uma pequena caixinha,

A menina apaixonada insere a moeda na ranhura…

Dá à manivela…

E poemas, muitos poemas…

 

E os poemas, meu amigo,

Os poemas às vezes atiram-nos (aos poetas) para a fogueira…

Sabes, meu amigo,

Em puto, era o gajo mais ranhoso de Luanda,

Mais chato,

Mais…

Mimado?

(Eu sei te lá)

Não o sei…

Mas era amado,

 

Quando era puto,

Obrigava o meu pai… a ir comigo olhar os barcos…

Entrava no cacilheiro em Cais do Sodré,

Despedia-se a tarde de mim…

E acordava em Cacilhas no Quartel errado,

O que se há-de fazer, meu amigo…

Eu e o meu pai sentávamo-nos no chão,

E eu,

Que alegria, meu amigo,

Que alegria estar duas ou três horas a olhar para os barcos…

Tão grandes e tão altos, pai…

 

E sabes, meu amigo,

Quando me trouxeram…

Tive medo,

Chorei muito…

Quando a cidade desparecia de mim…

E tudo se transformou numa só imagem; uma sombra e um punhado de lágrimas…

Mas… não sei, meu amigo,

Não o sei,

Mas tenho saudades das nossas conversas…

E dos desenhos tridimensionais que descrevias no silêncio.

 

 

 

 

 

Alijó, 16/05/2023

Francisco Luís Fontinha

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