08.12.22
Às sete e trinta horas da manhã
Num lindo e belo Domingo
De sol e calor
Em Janeiro
Acordaram-me;
Olho-a
Ela olha-me
Ela beija-me loucamente (era a primeira vez que me beijava)
Toca-me docemente
Depois
Pego-lhe no olhar (de quem acaba de dar à luz)
E guardo-o no peito.
Trago-o no peito.
Sou pastor de um lindo rebanho de palavras
Quase sempre
Ao final da tarde
Levo-as para o pasto
Uma fina e branca folha em papel
Depois
Tenho o final da tarde
E toda a noite
Depois
Regressamos
Ficamos exaustos
Cansados,
Dormimos; eu e o meu rebanho de palavras.
Às sete e trinta horas da manhã
Num lindo e belo Domingo
De sol e calor
Em Janeiro
Acordaram-me…
Acordaram-me para a vida.
Pastor de um belo rebanho de palavras
Desde as sete e trinta horas da manhã
Num lindo e belo Domingo,
E enquanto as palavras
O meu rebanho
Olham os rabiscos de uma tela minha
Pego na fotografia dela;
E percebo o quão ela me amava!
Pego-lhe no olhar (de quem acaba de dar à luz)
E guardo-o no peito,
E no peito construo uma escultura de saudade.
Alijó, 08/12/2022
Francisco Luís Fontinha
(à minha mãe)